O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse esta sexta-feira ter sinais de que não há razão para preocupação nos setores económicos e empresas portuguesas nas quais a Isabel dos Santos está a vender as suas participações.
“Os sinais que me chegam, mas como disse acabei de chegar a Portugal, são de que não há razão para nem a economia nesses setores, nem os trabalhadores, nem os que têm a ver com as empresas, fornecedores ou clientes, estarem preocupados com isso”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa em declarações à RTP.
Interrogado sobre um efeito “bola de neve” nas empresas e na credibilidade de Portugal no exterior, o chefe de Estado, respondeu: “Não, porque, note, são empresas, como é público e notório, têm condições de eventualmente haver interessados, se for caso disso, na aquisição de posições acionistas. Por isso, esse problema não se vai colocar, tal a importância dessas empresas nos setores e para a economia portuguesa”.
Marcelo, recém-chegado de uma visita a Israel, que falava à RTP a propósito dos quatro anos da sua eleição, começou por dizer que é necessário “distinguir duas realidades”. “A prioridade é aquilo que é a colaboração ao nível judicial que possa existir entre autoridades angolanas e portuguesas e isso tem a ver com uma investigação agora ou desencadeada ou aparentemente acelerada, e veremos como é a evolução no futuro”, disse.
“Outra coisa é a situação das empresas, e em relação à situação das empresas penso que há uma preocupação muito clara de garantir a sua estabilidade (…). Algumas são em setores importantes da economia portuguesa, ou no domínio da energia ou no domínio do sistema financeiro, no domínio da indústria”, acrescentou.
“Vai ser difícil” julgar Isabel dos Santos em Luanda
O analista da Economist Intelligence Unit (EIU) que segue a economia de Angola considerou este sábado em entrevista à Lusa que “vai ser difícil” às autoridades levarem a empresária Isabel dos Santos a julgamento em Luanda.
“Isabel dos Santos recentemente mudou a sua residência oficial para o Dubai, motivada pelo seu desejo de manter os ativos longe das mãos das autoridades angolanas, e não meteu o pé em Angola desde 2018″, lembrou Nathan Haye.
“O Governo disse que ia tentar que ela fosse a julgamento em Luanda, mas vai ser difícil; ela tem cidadania russa, o que pode impedir a extradição para Angola”, disse o analista, quando questionado sobre se acredita ser possível julgar a empresária na capital angolana.
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação revelou no domingo mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de ‘Luanda Leaks’, que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.
Isabel dos Santos disse estar a ser vítima de um ataque político e sustentou que as alegações feitas contra si são “completamente infundadas”, prometendo recorrer à justiça.