No último dia 14 de maio, o Real Gabinete Português de Leitura (RGPL), no Rio de Janeiro,
completou 186 anos de fundação. Conhecido por ser a “maior biblioteca de autores
portugueses fora de Portugal”, o local reúne relíquias literárias no seu acervo e serve de
referência para estudos, pesquisas e ações culturais, além de ser um conhecido ponto de
encontro da comunidade luso-brasileira.
Fundado em 1837, existem diversas histórias incríveis neste templo da literatura. O “Salão de
Leitura” e o “Salão dos Brasões” testemunharam incontáveis cerimónias cívicas, tais como a
jubilosa receção dos heróis Sacadura Cabral e Gago Coutinho após a primeira travessia aérea
do Atlântico Sul, além de exposições de pintores como a de José Malhoa, espetáculos musicais,
encontros científicos, entre muitos outros exemplos.
Algumas datas merecem destaque, como 1881, quando se iniciou a construção do atual
edifício-sede na cidade maravilhosa. Em 1887, houve a inauguração do edifício-sede com a
presença da princesa Isabel, no ano em que o Gabinete completava 50 anos. No ano de 1906,
por decreto de 12 de setembro, D. Carlos concedeu o título de Real ao Gabinete Português de
Leitura. Em 1935, foi concedido pelo governo português o estatuto de “depósito legal” ao Real
Gabinete Português de Leitura. Já em 1969, aconteceu a criação do “Centro de Estudos”.
Atualmente, o Real Gabinete Português de Leitura disponibiliza uma biblioteca pública, com
foco na cultura portuguesa e luso-brasileira. Além disso, através do seu Centro de Estudos,
realiza cursos de extensão, seminários, colóquios, conferências com o objetivo de “divulgar a
cultura portuguesa no Brasil”. No âmbito do Centro de Estudos funciona o Polo de Pesquisa
Luso-Brasileiras, criado por Gilda Santos em 2001, que reúne cerca de 60 professores e
pesquisadores.
Tombado pelo Instituto Estadual do Património Cultural do Rio, o Real Gabinete Português de
Leitura recebe, por ano, cerca de 220 mil visitantes. O seu acervo conta com obras históricas,
como a edição princeps d’Os Lusíadas, Ordenações de D. Manuel, por Jacob Cromberger,
editadas em 1521; os Capitolos de Cortes e Leys que sobre alguns deles fizeram, editados em
1539; Verdadeira informaçam das terras do Prest Joam, segundo vio e escreveo ho padre
Francisco Alvarez, de 1540; manuscrito autógrafo de O amor de perdição, de Camilo Castelo
Branco; o manuscrito do Dicionário da Língua Tupy, de Gonçalves Dias; entre outros.
“O RGPL, através do seu Centro de Estudos, e utilizando os canais que a tecnologia digital
permite, procura intensificar a sua presença e a divulgação das suas atividades culturais
dirigindo principalmente os seus esforços ao meio universitário. Para atingir tais objetivos,
também busca promover o intercâmbio e a colaboração com universidades e institutos
culturais e artísticos do país e do exterior”, frisou Francisco Gomes da Costa, presidente do
RGPL há sete anos.
A interação do Real Gabinete Português de Leitura com o governo de Portugal acontece por
meio da Associação Luiz de Camões, que foi constituída em 14 de maio de 2018 pelos
associados fundadores: Camões – Instituto da Cooperação e da Língua I.P, Real Gabinete
Português de Leitura, Liceu Literário Português e Real e Benemérita Sociedade Portuguesa
Caixa de Socorros D. Pedro V. O objetivo dessa Associação, segundo apurámos, é “zelar pela
proteção, preservação e valorização do património material e imaterial que compõe o acervo
cultural, social, educacional e histórico lusitano agregado às três instituições brasileiras”.
O Real Gabinete Português de Leitura possui também a maior e mais valiosa biblioteca de
obras de autores portugueses fora de Portugal, com um acervo, inteiramente informatizado,
composto por 350 mil volumes. A biblioteca recebe de Portugal, pelo estatuto do “depósito
legal”, um exemplar das obras publicadas em Portugal.
O edifício da atual sede, projetado pelo arquiteto português Rafael da Silva e Castro, foi
erguido entre 1880 e 1887 em estilo neomanuelino, um estilo arquitetónico que evoca o estilo
gótico-renascentista vigente à época dos Descobrimentos portugueses, denominado como
manuelino em Portugal por haver coincidido com o reinado de D. Manuel. No Rio, o edifício é
um marco arquitetónico e turístico.
O Imperador D. Pedro II lançou a pedra fundamental do edifício em 10 de junho de 1880, e sua
filha, a Princesa Isabel, junto com o seu marido, o Conde d’Eu, inauguraram-no em 10 de
setembro de 1887.
Ígor Lopes