Ainda em setembro, no dia 27, celebrou-se o Dia Mundial do Turismo, uma área que
tem levado Portugal a enfrentar novos desafios com a chegada, cada vez maior, de
visitantes, mas também tem apresentando oportunidades importantes à nação, com
especial relevância para os destinos do Interior.
Este setor, embora tenha passado por “apuros” durante a pandemia de Covid-19,
mostra-se “revigorado”. Turistas de todo o mundo chegam a Portugal para passear,
usufruir da agenda cultural, conhecer a imponente realidade arquitetónica do país,
além de deixaram, em solo português, uma grande quantia de dinheiro, investida,
sobretudo, na restauração, na rede hoteleira e nos segmentos de transportes e
eventos.
Para conhecer os resultados obtidos por Portugal neste setor, entrevistamos Nuno
Fazenda, Secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços de Portugal, que
destacou os resultados conquistados nos primeiros sete meses deste ano, números
considerados por este responsável “os melhores” do Turismo no país.
Este governante explicou ainda as estratégias adotadas em regiões como a América
do Sul e a Europa, validou a expressiva ajuda do Turismo na mudança económica e
social do país, referiu números de turistas provenientes da Suíça, enumerou os
principais programas disponíveis, comentou o estado do Turismo neste momento pós-
pandémico e avaliou a sua gestão.
Quais os números atuais do Turismo em Portugal?
Os primeiros sete meses do ano, de janeiro a julho, correspondem aos melhores sete
meses do turismo em Portugal. A Organização Mundial do Turismo, por exemplo, cifra
a recuperação mundial do turismo em 80 a 85% dos níveis pré-pandemia. Ora,
Portugal, com base nos mais recentes números do Instituto Nacional de Estatística
(INE), já supera os valores pré-pandémicos e lidera na recuperação mundial do
turismo.
A título de exemplo, regista-se um aumento, face a 2019, de 9,8% nas dormidas, 11%
nos hóspedes e 39,2% nas receitas. Números muito positivos que retratam um ano de
excelência e resiliência por parte de todos os que compõem o setor.
De que zonas do mundo são provenientes os turistas que visitam Portugal?
Em termos de dormidas de Estrangeiros, no acumulado de janeiro a julho de 2023, a
maioria é proveniente do Reino Unido (18,6%), da Alemanha (11,2%) e de Espanha
(9,5%). Seguem-se os EUA (8,4%), França (8,6%) e Brasil (5%). De registar que a
variação, face a 2019, do mercado americano, regista um crescimento na ordem dos
70%. Um assinalável aumento que demonstra o sucesso da aposta em mercados
estratégicos.
E em relação ao turismo interno, quais são os dados disponíveis?
Em relação aos Residentes, registaram-se, entre janeiro e julho de 2023, 12,8 milhões
de dormidas (+5,2% face a 2022 e +12,8% face a 2019). A região Norte é onde se
regista o maior número de dormidas de turistas portugueses desde janeiro (2,7
milhões), seguindo-se o Algarve (2,5 milhões), o Centro (2,5 milhões) e a Área
Metropolitana de Lisboa (2,4 milhões).
Que zonas do país são mais visitadas?
Atualmente, e de acordo com os dados acumulados de janeiro a julho de 2023,
contabilizando turistas nacionais e estrangeiros, a Área Metropolitana de Lisboa
regista o maior número de dormidas (11,5 milhões), quase a par com o Algarve (11,3
milhões). A estes dois seguem-se a região Norte (7,2 milhões) e a Madeira (5,3
milhões).
Qual a faixa de investimento, por parte dos turistas, que Portugal recebeu, por
exemplo, durante o verão 2023? Já existem dados?
O volume de gastos com cartões bancários estrangeiros em Portugal registou níveis
nunca antes alcançados durante o 1.º semestre de 2023. O volume financeiro
movimentado ultrapassou em 30% o registado em igual período de 2022 e em mais de
80% do verificado no período homólogo de 2019. O Banco de Portugal, na sua análise
mensal ao setor do turismo, regista, em junho e julho, um aumento das exportações no
setor do turismo, em 13,1% e 7,2%, respetivamente, comparando com os meses
homólogos.
Da mesma forma, há números de portugueses que visitam outros países? Se
sim, quais as zonas mais visitadas?
Em 2022, Espanha ocupa o 1.º lugar com 5,3 milhões de dormidas (um acréscimo de
120,6%) correspondentes a uma quota de 25,9%. Seguem-se França e Itália que
registam, respetivamente, valores de 2,1 milhões de dormidas (+79,8%) e 1,2 milhões
de dormidas (+217,9%). Cerca de 63,4% das dormidas dos residentes nacionais
realizadas ao estrangeiro tiveram como destino os países da União Europeia; por sua
vez, os países do continente das Américas representam 19,0% e os países do
continente africano 9,1%.
Como é que o Turismo está a auxiliar na alteração socioeconómica do país?
O Turismo tem um papel fundamental no desenvolvimento socioeconómico do país.
Uma das nossas primeiras prioridades é impulsionar o setor do turismo como uma
alavanca do desenvolvimento económico no interior. A Agenda do Turismo para o
Interior, como uma dotação inicial global de 200M€, é uma demonstração disso
mesmo. Um turismo ao serviço dos territórios, das economias locais e promotor da
nossa genuinidade e identidade coletiva.
Que medidas estão hoje em vigor para promover a imagem de Portugal?
A promoção de Portugal enquanto destino turístico é feita através de cinco grandes
vetores: Presença nas principais feiras de turismo internacionais, com um elevado foco
nas feiras de negócio para potenciar a visibilidade e negócio das empresas;
Divulgação de campanhas de promoção nacional e internacional como a campanha
Viaja pelo teu interior, que visa estimular a procura nos territórios do interior do país;
Produção de ações de ativação de marca nos principais mercados emissores que tem,
como exemplos mais recentes, a participação da marca VisitPortugal nos eventos
Financial Times Weekend Washington D.C. e Londres, onde Portugal foi o país
convidado do evento, tendo desenvolvido várias ativações associadas a turismo
literário, gastronomia e ao enoturismo; Apoio a eventos e grandes produções através
do programa de financiamento Portugal Events; e Captação de congressos
profissionais.
De que forma o Turismo tem atuado no desenvolvimento do Interior do país?
Aquela agenda, consubstanciada num documento que resulta da auscultação dos
principais agentes turísticos dos municípios do interior, visa estimular o efeito
catalisador do turismo e reforçar a diferenciação destes territórios com incentivos
concretos e direcionados às suas reais necessidades. Com um orçamento global
inicial de 200 M€, assenta em instrumentos e medidas de atuação que visam valorizar
o território, investir nas empresas, qualificar os profissionais e projetar o interior e a
sua oferta: 20 milhões de euros para a Linha +Interior, Turismo, Território que vem
reforçar a atratividade turística dos territórios, com apoio até 70% da despesa elegível
e subvenção a fundo perdido, até ao limite de 400 mil euros por projeto; 15 milhões de
euros para Microcrédito +Interior Turismo que visa a criação, crescimento/expansão
de negócios para micro e PME, contempla empréstimo sem juros, com prémio de
desempenho associado que pode ascender até 30% a fundo perdido do crédito
concedido; 50 milhões de euros para a Linha de Apoio à Qualificação da Oferta, gerida
pelo Turismo de Portugal, num reforço para o interior; 200 mil euros para Estudar
Turismo no Interior, com incentivo à mobilidade de estudantes residentes no litoral
para as Escolas de Hotelaria e Turismo do Turismo de Portugal localizadas no interior;
25% de majoração do apoio afeto ao Portugal Events para estímulo à realização de
eventos no interior; Desenvolvimento do projeto Viaja pelo teu interior, nos mercados
nacional e internacional, de forma a mobilizar operadores, instituições e comunidade.
Como funciona a medida de majoração no que toca ao Programa Regressar para
quem decide voltar a Portugal e investir na região Centro do país no ramo do
Turismo?
Uma das medidas da Agenda do Turismo para o Interior direciona 400 mil euros para
o programa Regressar +Interior Turismo, um incentivo à mobilidade de pessoas para
empresas turísticas do interior, com candidaturas aprovadas na “Medida de Apoio ao
Regresso de Emigrantes a Portugal” ou que beneficiem de estágios profissionais
apoiados pelo Turismo de Portugal.
Neste momento, pós pandemia, mas que ainda suscita cuidados, uma vez que o
coronavírus está a mostrar-se “de regresso” a algumas zonas do país, como é
que o Turismo pode ajudar na promoção dos cuidados necessários e na
segurança em termos de saúde dos visitantes?
Em 2022, foi lançada a nova versão do Selo Clean & Safe, que funciona agora
também como um instrumento de apoio às empresas para a “gestão de crises”.
Pretende-se, assim, reforçar a confiança em Portugal enquanto destino turístico
seguro, seja por parte de turistas, nacionais e estrangeiros, seja por parte dos
colaboradores das empresas do setor e da população em geral. Mantendo o enfoque
na questão sanitária, continuando a promover a excelência no desempenho higiénico-
sanitário das empresas e entidades aderentes, a nova versão do selo passa a prever
outras eventuais crises de saúde pública (como outras pandemias além da COVID-19
ou ondas de calor), bem como uma nova dimensão de segurança transversal às
atividades turísticas, abrangendo possíveis situações de risco decorrentes de
fenómenos extremos (incêndios rurais, inundações, sismos ou tsunamis) e de
constrangimentos internacionais (cibercrime, repatriamentos, refugiados). O Selo
Clean & Safe continua opcional e gratuito, sendo válido até junho de 2024.
O Turismo de Portugal no Brasil, liderado por Bernardo Cardoso, é sempre
muito ativo. Que ações são realizadas nessa região da América do Sul e quais as
estratégias para este público proveniente do Brasil?
Tendo em conta a sua grande dimensão enquanto emissor de turistas, as
acessibilidades aéreas privilegiadas, a elevada despesa média e baixa sazonalidade,
o Brasil continua a ser uma aposta estratégica para o turismo português, com enorme
potencial de crescimento, tanto em termos de consumidor final, como no segmento
empresarial. Exemplo da aposta neste mercado é o “Portugal 360”, o maior evento de
promoção do nosso país no Brasil enquanto um destino 360, um destino para visitar,
mas também para investir, estudar, criar empresas e viver. Durante três dias, já este
ano, tive a oportunidade de estar de perto com os operadores turísticos brasileiros,
com as pessoas e empresas portuguesas e, olhos nos olhos, verificar o dinamismo da
promoção nacional no Brasil, bem como o grande interesse do mercado brasileiro no
nosso país.
Quais os números do Turismo sobre os visitantes brasileiros?
Em 2022, o Brasil posicionou-se como o 7.º mercado turístico da procura externa para
o destino Portugal aferido pelo indicador dormidas e ocupou o 6.º lugar para o
indicador hóspedes. No indicador dormidas, a Área Municipal de Lisboa é o principal
destino nacional dos turistas provenientes do Brasil que visitam Portugal (54,7%),
seguido do Norte (23,2%), Centro (9,1%), e do Algarve (7,7%). No 1.º semestre de
2023, observa-se que as dormidas dos turistas provenientes do Brasil em alojamento
turístico em Portugal registaram um crescimento na ordem de 31,1%, os hóspedes
terão aumentado 37,2% e as receitas turísticas subiram 76,7%.
E quais estratégias são utilizadas para atrair visitantes de países europeus,
como a Suíça?
A estratégia de promoção do VisitPortugal tem quatro pilares essenciais: Crescer na
internacionalização – das empresas e marcas portuguesas; Crescer em valor – através
de ações e iniciativas dirigidas a segmentos exigentes e com elevado poder de
compra; Crescer no interior – reforçando a promoção destes destinos turísticos e dos
seus ativos únicos; Crescer na dupla transição – reforçando a digitalização e o uso de
tecnologia na atividade promocional de forma a melhorar a sua eficiência e eficácia.
Existem números sobre os visitantes da Suíça a Portugal?
Nos primeiros quatro meses de 2023, as dormidas dos turistas suíços em alojamento
turístico em Portugal registaram um crescimento na ordem de 32,3%, os hóspedes
terão aumentado 36,1% e as receitas turísticas subiram 34,7%. Em termos de ranking
e quota de mercado, nos indicadores hóspedes, dormidas e receitas turísticas
reportadas ao 1.º quadrimestre de 2023, o mercado da Suíça posicionou-se no 11.º
lugar para o indicador hóspedes e na 13.ª posição nas dormidas, respetivamente,
enquanto nas receitas turísticas ocupou o 9.º lugar.
Quais as diferenças de estratégia quando o assunto é atrair turistas de zonas
como o Brasil e a Suíça?
A estratégia tem de ser, obrigatoriamente, dinâmica, procurando responder de forma
concertada a cada mercado e target. Com um foco na promoção de um turismo
responsável, com maior valor para o território e em ativos que permitam um
crescimento mais sustentado durante todo o ano e em todo o território. Neste sentido,
a seleção de ativos a promover e os mecanismos e canais usados são alvo de um
planeamento operacional cuidado, de forma a ser possível o alinhamento com os
objetivos da Estratégia 2027.
Quando Portugal recebe os seus emigrantes, que hoje moldam a diáspora, esse
público é também avaliado do ponto de vista do turismo?
Sim, da mesma forma que um turista interno quando se desloca a outra cidade do
país, os emigrantes, quando visitam Portugal, são avaliados de acordo com a sua
proveniência.
Algumas das principais queixas, maioritariamente, de quem está na América do
Sul e quer visitar Portugal são os preços dos bilhetes aéreos, sobretudo da
empresa de bandeira nacional TAP Portugal, apesar de intensificados o número
de voos do Brasil para a Europa. De alguma forma, existe diálogo entre o
Turismo de Portugal e a TAP, ou outras companhias aéreas, para trabalharem
em conjunto nesse esforço de “facilitar” a vinda de turistas de zonas com menor
capacidade económica e maior ligação histórica?
A conectividade aérea é fundamental e o Turismo de Portugal trabalha em cooperação
com a TAP, a ANA, o Governo e outras companhias aéreas no sentido de promover a
ligação de Portugal com os vários países.
Para quem decide regressar a Portugal e empreender e investir no país na área
do Turismo, quais apoios existem?
Atualmente, existe o programa Regressar +Interior Turismo, incentivo que consta da
Agenda do Turismo para o Interior, bem como um conjunto de outros apoios, de outras
áreas governativas, como o programa Regressar é exemplo.
Alguns levantamentos mostram que a área do Turismo e da restauração “sofre”
com a falta de profissionais, muito em virtude dos baixos salários e da
precariedade laboral. Que medidas o Turismo de Portugal tem adotado para
corrigir este cenário?
Este tem sido um aspeto endereçado com foco e preocupação. O turismo é uma
atividade de e para pessoas e estamos comprometidos em valorizar as profissões do
turismo para que estas sejam cada vez mais atrativas e motivantes. O Governo
lançou, recentemente, a Agenda para as Profissões do Turismo que é composta por
20 medidas que visam crescer nas qualificações, na atratividade das profissões e no
número de profissionais, tendo como uma das suas metas, aumentar em 20% a
população empregada no setor. O Governo está comprometido com a execução desta
Agenda. A par disso, e procurado colmatar algumas questões de cariz mais imediato,
têm vindo a ser desenvolvidos protocolos de cooperação com diversos países, com o
intuito de receber e integrar pessoas que pretendem trabalhar no turismo em Portugal.
Focados em dar-lhes as condições necessárias para que obtenham a formação e a
qualificação de que precisam, a rede de Escolas do Turismo de Portugal promove
programas de acolhimento especificamente orientados para esse objetivo. Temos uma
rede de 12 escolas que forma centenas de profissionais por ano, além de serem o
dínamo que promove também formação descentralizada para profissionais, de acordo
com as necessidades dos vários territórios / municípios (Formação + Próxima).
Qual o papel dos migrantes que chegam a Portugal e trabalham na área do
Turismo? Existem números?
Foi desenvolvido um Programa de formação para capacitação em turismo (REFUTUR)
exclusivamente dirigido a refugiados e imigrantes integrados ao abrigo de Programas
coordenados pelo Alto Comissariado para as Migrações. O REFUTUR é um programa
intensivo de Formação Técnica na área da Hospitalidade e Serviço dirigido a
refugiados e migrantes que pretende dotar os participantes com competências
pessoais, sociais e profissionais que os habilitem a trabalhar em empresas do turismo,
hotelaria e restauração. Destaque também para o Check-in, um programa intensivo
baseado em ações de upskilling ou reskilling, dirigido a migrantes, profissionais com
formação de base noutras áreas, ou provenientes de outros setores de atividade de
modo a fornecer competências técnicas fundamentais nas áreas da operação hoteleira
e da restauração para um desempenho profissional eficiente das atividades inerentes,
com vista à especialização e adaptação de recursos humanos para o Turismo. O
objetivo passa por garantir uma formação de base a todas as pessoas que necessitam
de uma integração acelerada no setor, dotando-as de competências mínimas
ajustadas às exigências da qualidade do serviço em Portugal.
Por fim, como o Senhor Secretário de Estado do Turismo avalia a sua gestão até
ao momento?
Estes últimos meses têm sido desafiantes, intensos e de ação, sempre em
proximidade – nos territórios e junto das empresas, das instituições e das pessoas. Até
ao momento, tenho o orgulho de tutelar setores de atividade económica que, todos os
dias, demonstram o seu dinamismo, vitalidade e preponderância para a criação
nacional de riqueza. Projetos como a Agenda para as profissões do Turismo, a
Agenda do Turismo para o Interior, os programas do PRR dedicados ao comércio e
serviços, como os Bairros Comerciais Digitais e as Aceleradoras do Comércio Digital,
são alguns exemplos de concretização. Concretizar para servir as pessoas, famílias e
empresas é o que nos mobiliza. Desenhar e concretizar políticas públicas que
marquem e transformem positivamente a nossa economia, é a nossa ambição no
Ministério. Com a liderança e visão do Senhor Ministro da Economia e do Mar,
Professor António Costa Silva, tem sido possível concretizar medidas que visam
alterar estruturalmente a nossa economia e isso é um fator adicional de motivação e
de inspiração, quer para mim, enquanto Secretário de Estado, quer para as equipas
com quem trabalho, que também se sentem mobilizadas e alinhadas com o propósito
de transformar o turismo e a economia do nosso país.
Ígor Lopes