Portugal voltou a receber gás natural liquefeito (GNL) proveniente da Rússia no primeiro semestre de 2024, após um período de mais de seis meses sem importações deste país, de acordo com dados divulgados pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE). A descarga de gás russo representou 4,9% do total das importações nacionais de GNL nesse período, enquanto a Nigéria e os Estados Unidos continuaram a ser os principais fornecedores, representando 49,2% e 45,9% das importações, respetivamente.
O Porto de Sines, que recebeu a maioria dos navios metaneiros provenientes dos EUA e da Nigéria, foi o ponto de entrada de um navio metaneiro russo, o Boris Davydov, que transportou o GNL da península de Yamal, na Rússia, até Portugal, em maio de 2024. A embarcação, com bandeira cipriota, fez a descarga no início da manhã de 4 de maio, partindo no dia seguinte.
Este retorno às importações de gás russo ocorre num contexto de continuada dependência energética da Europa em relação à Rússia, apesar dos esforços para diversificar as fontes de energia desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022. Um estudo recente, intitulado “O atribulado divórcio do gás russo na Europa”, produzido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) em parceria com a Brookings Institution, destaca que, apesar das medidas rápidas e significativas tomadas pela Europa para reduzir a dependência do gás russo, o continente ainda se vê fortemente dependente deste recurso.
As autoras do estudo, Samantha Gross e Constanze Stelzenmüller, alertam que a dependência do GNL, uma alternativa mais cara, tem resultado em prejuízos para indústrias intensivas em energia, além de aumentar as tensões políticas entre países europeus. O relatório também sublinha a vulnerabilidade da Europa a riscos futuros, como a chantagem energética por parte da Rússia, a potencial instabilidade política nos EUA com uma possível reeleição de Donald Trump, e a volatilidade do mercado global de GNL.
Antes do conflito na Ucrânia, a Rússia era responsável por mais de 40% do gás natural importado pela Europa. Embora essa porcentagem tenha diminuído, a Europa ainda depende do gás russo para 14,8% do seu abastecimento total, distribuído entre gasodutos (8,7%) e GNL (6,1%) em 2023. A situação continua a ser uma preocupação para a segurança energética europeia, com implicações geopolíticas significativas.