À procura de pistas sobre como tirar o mundo do seu estado inflacionário actual?
Numa altura em que a maior parte do mundo está a agravar os problemas das cadeias de abastecimento e do aumento dos preços da energia através da aplicação de tarifas à importação, o Brasil – de todos os países – está a abrir-se ao comércio.
É uma reviravolta notável para qualquer pessoa familiarizada com a história do Brasil. Nos anos após a Segunda Guerra Mundial, o país foi o berço da industrialização substitutiva das importações, uma política de desenvolvimento popular na América Latina que asfixiou as importações para encorajar a produção interna.
Isso está a começar a mudar. Com a inflação a 12,1%, o seu nível mais alto desde 2003, o país está a precipitar-se para baixar o custo dos bens importados. Os direitos sobre cerca de 6.195 produtos seriam temporariamente reduzidos em 10%, anunciou o governo no mês passado. Isto segue-se a uma ronda semelhante de reduções no final do ano passado.
Mais dramáticos foram os cortes numa série de produtos essenciais de alto nível. Os direitos sobre o etanol, margarina, café, queijo, açúcar e óleo de soja foram completamente eliminados em Março, seguidos em Maio pelos direitos sobre o frango, carne de vaca, trigo, milho e produtos de padaria. O ácido sulfúrico, um ingrediente essencial no fabrico de fertilizantes, seria também classificado como zero.
Estas reformas não vão representar por si só uma revolução. As reduções permanentes iriam contra as regras do bloco comercial do Mercosul, pelo que as medidas foram facturadas como expedições humanitárias temporárias para aliviar o custo da inflação, na sequência da epidemia de Covid que castiga o Brasil. Após décadas de isolacionismo comercial, não é claro se o Presidente Jair Bolsonaro ou o ex-líder Luiz Inácio Lula da Silva, o seu provável adversário nas eleições deste ano, apoiariam uma mudança radical da protecção.
Cortar o custo dos produtos agrícolas de outros países irá irritar os poderosos interesses do agronegócio brasileiro. Entretanto, o poder de compra das famílias diminuiu tão drasticamente nos últimos anos que a maioria não podia pagar alimentos importados a qualquer taxa tarifária.
Ainda assim, é uma mudança bem-vinda no vento para uma economia mundial que tem andado à deriva numa direcção cada vez mais proteccionista nos últimos anos.