O dia 19 de novembro é uma data muito importante tanto para as mulheres como para o mundo dos negócios. Desde 2014, por iniciativa da ONU Mulheres, se celebra na data o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, que tem o principal objetivo de celebrar e apoiar a entrada de mulheres no universo corporativo.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a celebração do Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino é um esforço para ampliar as oportunidades para as mulheres em todo mundo. Dados de 2019 mostram que elas detêm um acesso médio entre 58% e 70% dos postos ocupados por homens na política, economia, educação e saúde. Além disso, a entidade visa atrair a atenção mundial para o impacto econômico e social do movimento, fortalecendo o protagonismo das mulheres.
Já os termos “Empreender” e “Empreendedorismo” surgiram nos Séculos XVII e XVIII na França e identificava indivíduos ousados e audaciosos que estimulavam o progresso econômico através de suas atitudes pioneiras. Porém, conforme lembra a neuropsicóloga Leninha Wagner, “foi somente no ano de 1950, que o empreendedor ganhou definição pelas palavras do economista e cientista político Austríaco Joseph Schumpeter, que o identificou como alguém que possui habilidades técnicas e capitalistas com a capacidade de organizar operações internas. Recria, aperfeiçoa e até mesmo revoluciona o processo de produção conhecido por “criativo-destrutivo” do capitalismo, através do desenvolvimento de novas tecnologias ou ainda através de antigas tecnologias que culminem em inovações”. São esses, portanto, os agentes do desenvolvimento econômico.
Ao longo da história da humanidade homens e mulheres desempenham papéis nitidamente distintos. Leninha ressalta que, por estar sempre a figura feminina associada à fragilidade, foi durante muito tempo entendida como dependentes dos homens: “Esse padrão fez com que as mulheres estivessem sempre subordinadas à figura masculina tanto antes como depois do matrimônio. “Com o passar dos anos e o desenvolvimento de novas tecnologias que diminuíram o esforço braçal, houve a necessidade de trabalho intelectual, criaram-se assim novas oportunidades para a inserção feminina nos mais diferentes ramos de atividade”.
O empreendedorismo é um desses ramos, reforça a neuropsicóloga, que traz “não só o retorno econômico e com isso a independência financeira, mas principalmente a satisfação pessoal, elevação da autoestima e claro, a redução do preconceito histórico que sempre rebaixou a figura feminina como um todo”.
Um dos episódios importantes que marcou o início e com isso a permanência feminina no mercado de trabalho foram a 1ª e a 2ª Guerra Mundial ocorridas entre os anos de 1914-1918 e 1939-1945. Leninha Wagner conta que “o elevado número de homens que se ausentaram nesse período, tanto por mortes como em função dos próprios combates tornou inevitável a contratação de mulheres para desempenhar funções até então exclusivamente masculinas. Ao ganharem mais espaço, as mulheres passaram a se unir em defesa dos seus direitos e principalmente pela luta constante de igualdade entre os sexos”.
Só no ano passado, Leninha Wagner observa que 163 milhões de mulheres iniciaram uma atividade econômica. “Foram pesquisados 63 países, entre eles o Brasil, e constatou-se que entre 2015 e 2017 o número de mulheres que iniciaram uma atividade econômica aumentou 10% e por outro lado, nesse mesmo período, diminuiu o percentual entre homens e mulheres para apenas 5% na média mundial”.
“Afinal, o que querem as mulheres?”
Afinal, o que querem as mulheres? Esta pergunta foi feita por Freud, no século XIX, depois de 30 anos de estudos sobre a alma feminina. Ela originou-se, segundo Kramer (2006), biógrafo de Freud, das reflexões do pai da psicanálise sobre uma de suas pacientes: Ida Bauer. Ida tinha 15 anos e estava acometida de acessos de tosse nervosa e dificuldades para falar. A interpretação dada por Freud ao caso – assédio sexual de um amigo da família e a incapacidade do pai em protegê-la – era que o nervosismo e a afasia ocasionais da paciente eram fruto do seu desejo sexual inconsciente pelo molestador.
Trazendo esta situação para o mundo pós moderno, a neuropsicóloga Leninha Wagner explica que “o que afinal as mulheres querem é respeito e igualdade de direito. Basta encontrarem a oportunidade, que em muitos casos nasce da necessidade. Elas usam da criatividade e sensibilidade, e sua visão de mundo periférica que tudo enxergam, e desbravam caminhos antes inexistentes. Ocupando cargos e funções que eram dominadas pelos homens ou que simplesmente não existiam”.
Do ponto de vista psicossocial, “as mulheres empreendedoras inovam, pois ao criarem ou assumirem a liderança de seus próprios empreendimentos, transpõem o denominado ‘Teto de Vidro’, um obstáculo simbólico que dificulta a ascensão das mulheres a altos níveis da administração empresarial. As empreendedoras também promovem inovação na cultura organizacional brasileira. Elas se constituem como um contraponto à exclusão do gênero feminino no processo sucessório de empresas”, detalha Leninha.
Por que elas querem ser empreendedoras?
Considerando que o empreendedorismo envolve o desafio de escolher criar e/ou conduzir um empreendimento próprio, Leninha Wagner acredita que, de fato, estas são as razões motivacionais para as mulheres serem empreendedoras:
1-Necessidade de sobrevivência.
2- Insatisfação com a liderança masculina.
3- Descoberta de um nicho de mercado.
4-Satisfação em tomar as próprias decisões.
5- Percepção do desafio que, em combinação com o prazer vindo da possibilidade da conquista.
Por outro lado, Leninha lembra que as mulheres deixam seus empregos formais para criar suas empresas devido a três fatores, ordenados pelo seu grau de importância
1) Autodeterminação, autonomia e liberdade;
2) Desafios e atrações do empreendedorismo, envolvendo aspectos como reconhecimento e oportunidade de estar no controle do seu destino;
3) Obstáculos ao desenvolvimento dentro das corporações, envolvendo descompasso com a cultura corporativa, discriminação e barreiras ao desenvolvimento profissional.
De forma complementar e diferente do que ocorre com os homens, a neuropsicóloga salienta que a flexibilidade de horário, “bem como razões familiares são apontadas como motivos que impulsionam mulheres empreendedoras a desejarem ser seus próprios patrões”. Já em relação às consequências do empreendedorismo, “verifica-se que donas de negócios próprios apresentam maiores índices de satisfação do que as executivas. As principais fontes desta satisfação diferenciada das empreendedoras remetem ao ritmo de trabalho, à quantidade mínima de interferência de terceiros e aos interesses pessoais satisfeitos. Pode-se argumentar, então, que a satisfação das empreendedoras se deve ao fato de poder atuar com autonomia e ter poder de decisão, fatores importantes na satisfação de mulheres em posição de liderança e que predizem o bem-estar psicológico de mulheres casadas”.
Outro ponto levantado por Leninha é que “faz parte da vida das mulheres contemporâneas sua ativa participação nos cuidados da família e na administração da casa, bem como seu forte envolvimento em atividades produtivas fora do lar. Porém ainda prevalecem dois estereótipos em relação às mães que trabalham, ora percebidas como pouco competentes e calorosas, não merecendo oportunidades de emprego, promoção ou educação adicional, ora vistas como competentes e frias. Assim, a representação social da maternidade se constitui como uma muralha, dificultando o trânsito das mulheres no espaço público”.
Para Leninha Wagner, a análise de como as mulheres contemporâneas lidam com a multiplicidade de papéis “sugere a relevância que conferem ao ato de fazer escolhas sem pressões ou cobranças. Uma necessidade a ser reconhecida pela sociedade como um todo. Pois mulher não é só mãe ou dona de casa. Já provamos que somos sensíveis, determinadas, fortes, inteligentes, competentes e prontas para além de exercer funções que anteriormente eram apenas masculinas, ganhar por meritocracia o mesmo salário pago aos homens e as mesmas chances de ascensão profissional”, completa.