Os portugueses estão arcando com os custos de recolha e tratamento do lixo produzido pelos milhões de turistas que visitam o país todos os anos. Esses custos estão sendo cobrados diretamente nas faturas mensais de água, segundo a presidente da Sociedade Ponto Verde (SPV), Ana Trigo Morais, citada pelo ‘Jornal de Negócios’.
A SPV, que gere o sistema integrado de embalagens, destacou a necessidade urgente de contabilizar esses custos. “É bastante injusto para os contribuintes pagarem na taxa de gestão de resíduos, associada ao consumo de água das suas casas, os resíduos produzidos pelos turistas. Há uma externalidade da atividade turística nas vilas, praias, montanhas e cidades, e quem está a pagar são os moradores desses sítios”, afirmou Ana Trigo Morais. Ela ressaltou que esse impacto deve ser usado para melhorar a gestão dos resíduos nas regiões afetadas.
Uma das propostas da SPV é eliminar a taxa de gestão de resíduos indexada ao consumo de água, o que está previsto para 1 de janeiro de 2025. A responsável sugeriu que, em vez disso, os municípios utilizem as taxas turísticas para cobrir esses custos.
O ambientalista Rui Berkemeier, da associação Zero, também apontou a necessidade de implementar sistemas de depósito e reembolso nos supermercados e de recolha porta a porta, de modo que as pessoas paguem pelo lixo que realmente produzem.
Dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) de 2022 indicam que Portugal produziu mais de cinco milhões de toneladas de resíduos urbanos, dos quais 77% foram recolhidos de forma indiferenciada. Apesar dos esforços, 57% desses resíduos ainda acabam em aterros, e apenas 16% foram reciclados em 2022.
Ana Trigo Morais concluiu que, embora as embalagens tenham sido o foco da SPV, o país enfrenta um desafio maior com os resíduos urbanos em geral, e que é necessário um esforço contínuo para melhorar a reciclagem e reduzir o uso de aterros.