“Instamos os Estados-membros a avançarem com a atribuição das faixas centrais de 5G, em conformidade com os prazos acordados”, frisa fonte oficial do executivo comunitário em resposta escrita à Lusa.
Esta resposta surge numa altura em que se aproxima o final do ano, prazo até ao qual a Comissão Europeia tinha previsto que houvesse 5G disponibilizado de forma comercial em pelo menos uma cidade por Estado-membro. Porém, essa só é uma realidade em 17 países da União Europeia (UE), nos quais não se inclui Portugal.
“Os atrasos, inclusive nos leilões para a atribuição de frequências 5G, criam incerteza para as empresas que têm de tomar decisões e criam incerteza para os consumidores”, critica a Comissão Europeia.
Assumido como uma prioridade europeia desde 2016, o desenvolvimento do 5G na UE tem vindo a ser mais demorado do que previsto, sendo possível que Bruxelas falhe a sua meta de cobertura até final de 2020.
Os dados mais recentes do Observatório Europeu para o 5G (estrutura criada pela Comissão Europeia para acompanhar a evolução desta tecnologia) revelam que, até final de setembro, apenas havia serviços comerciais em 17 países da UE — Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, República Checa, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Letónia, Polónia, Roménia, Eslovénia, Espanha e Suécia.
Em todos estes países havia pelo menos uma operadora de telecomunicações a disponibilizar pacotes de 5G, mas na maioria dos casos esta ainda era uma cobertura seletiva, abrangendo apenas algumas localidades e uma parte da população. Fora da lista estavam, além de Portugal, França, Grécia, Lituânia, Estónia, Croácia, Luxemburgo, Chipre, Malta e Eslováquia.
Espera-se que a atribuição das licenças 5G em Portugal decorra durante o primeiro trimestre de 2021, em plena presidência portuguesa, mas o conflito entre os operadores de telecomunicações e a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) ameaça suspender o processo.
“Gostaríamos de salientar que o desenvolvimento atempado do 5G na Europa é de primordial importância, uma vez que a conectividade 5G é a base para a transformação digital e ecológica da nossa economia e sociedade. A Comissão tem apoiado ativamente esta tecnologia na Europa através do seu plano de ação sobre o 5G e de várias ações subsequentes”, frisa o executivo comunitário, lembrando que tem de ser uma aposta dos Estados-membros.
No plano de ação lançado em 2016, a instituição também tinha previsto que, até 2025, houvesse uma cobertura mais abrangente de 5G, incluindo áreas urbanas e vias terrestres principais. Questionada se esta ambição se mantém, a Comissão Europeia afirma ser “demasiado cedo para dizer o que o processo de revisão do plano de ação sobre o 5G trará em termos de possíveis novos objetivos de cobertura”.
Já à pergunta da Lusa se o desenvolvimento desta tecnologia terá de ser uma aposta da presidência portuguesa do Conselho da UE no primeiro semestre de 2021, a fonte oficial do executivo comunitário adianta que “a Comissão apoiará os Estados-membros no lançamento do 5G e espera trabalhar de forma construtiva” com Portugal.
Relativamente à cibersegurança nas redes 5G, em janeiro passado, a Comissão Europeia aconselhou os Estados-membros da UE a aplicarem “restrições relevantes”, como a exclusão, aos fornecedores considerados de “alto risco”, embora rejeitando estar a referir-se à Huawei, fabricante chinesa que tem vindo a ser acusada de espionagem pelos Estados Unidos.
“Espera-se que as redes avançadas de 5G forneçam infraestruturas seguras para serviços críticos […] e, por isso, vemos os investimentos em segurança cibernética 5G como uma necessidade e não como uma causa de atraso”, conclui a fonte oficial da Comissão Europeia.
Bruxelas está avaliar queixas
A Comissão Europeia está a avaliar as queixas recebidas sobre o processo do leilão de 5G em Portugal e garante estar “em contacto com as autoridades portuguesas”, mas não revela o seu conteúdo, nem avança com uma previsão do resultado.
Questionada pela Lusa sobre o 5G em Portugal, que está a ser marcado por uma “guerra” entre operadores e regulador Anacom, fonte oficial do executivo comunitário diz que Bruxelas “recebeu queixas sobre este assunto e está a avaliar de acordo com os seus procedimentos padrão”.
A mesma fonte disse que está “em contacto com as autoridades portuguesas”, escusando-se a avançar mais detalhes. “Não podemos comentar mais sobre o conteúdo desses contactos, nem prever o seu resultado”, concluiu a mesma fonte.
Os operadores de telecomunicações tinham apresentado queixas a Bruxelas sobre eventuais ajudas indevidas do Estado no projeto de regulamento, o qual previa o desconto de 25% na compra de espetro por novos entrantes.
Entretanto, o regulamento final do leilão, divulgado no início deste mês, retirou aquele desconto para os novos entrantes, tendo imposto obrigações de cobertura que não existiam no projeto, mas manteve a obrigatoriedade de roaming nacional, que é contestado pelos operadores.
A NOS, por exemplo, têm vários processos judiciais no âmbito do leilão do 5G, entre os quais uma providência cautelar contra o regulamento. Já a Vodafone ameaçou deixar de investir em Portugal.
O presidente da Anacom, João Cadete de Matos, espera que “todos os que estejam interessados em investir” no 5G “apresentem candidaturas” e salientou que no leilão anterior houve condições, em alguns casos, “mais incentivadoras” que no atual.