O Executivo espanhol adianta que, após as primeiras análises, não há indícios de um ataque cibernético à companhia Red Elétrica, gestora do setor elétrico de Espanha. Um mês após o blecaute de 28 de abril, o país continua a investigar o ocorrido e revelou que houve três defeitos no sistema segundos antes da interrupção, mas não há justificativa para o incidente.
As primeiras apurações identificaram que houve três quedas de geração no setor energético espanhol, a primeira em Granada, a segunda em Badajoz e a terceira em Sevilha (sul e sudoeste do país), nos 19 segundos anteriores ao corte, registrado às 12:33 (11:33 em Lisboa) de 28 de abril, revelou a titular da pasta da energia, Sara Aagesen, no Congresso, em 14 de maio.
O Governo espanhol criou um grupo de trabalho para investigar o apagão, que está a examinar 756 milhões de registros de todos os agentes do setor.
Sara Aagesen disse aos parlamentares que já se descartou “nem um déficit de cobertura, nem um contratempo com as reservas, nem um defeito no dimensionamento das redes”.
Além das três anomalias detectadas no sistema de geração, “houve duas flutuações do sistema ibérico com o resto do continente europeu”, afirmou a ministra no mesmo dia.
Na semana anterior, a Entidade Europeia de Gestores de Redes de Transporte de Eletricidade (Entso-e) já havia informado que meia hora antes do colapso energético na Península Ibérica ocorreram “dois episódios de variações de potência e de frequência na área síncrona da Europa continental”.
É preciso “ainda apurar em que medida as duas perturbações” tiveram relação com o blecaute, declarou a responsável.
A entidade que representa as companhias energéticas espanholas (Aelec), da qual fazem parte Iberdrola, Endesa e EDP, solicitou na semana passada que fossem investigadas alterações “extremas e generalizadas” de tensão no dia do apagão e em 22 e 24 de abril.
Segundo a associação, houve nos dias 22 e 24 de abril flutuações que levaram ao desligamento automático de unidades de geração e de consumidores em Espanha, citando como exemplo a planta da Repsol em Cartagena, na região de Múrcia, e ferrovias de alta velocidade.
De acordo com Sara Aagesen, após as avaliações iniciais, não há sinais de um cibercrime contra a Red Elétrica, a responsável pelo funcionamento do sistema elétrico espanhol.
A ministra explicou que o painel criado pelo Executivo está a revisar os dados relativos ao colapso em três frentes: o operador do sistema, os núcleos de controle e as usinas de geração distribuídas pelo território.
Além do comitê formado pelo Governo, a Agência Nacional dos Mercados e da Concorrência de Espanha (CNMC) iniciou uma sondagem própria, e a Justiça espanhola abriu um processo para verificar a possibilidade de um ataque digital ter causado o corte de energia.
A União Europeia também deu início a uma investigação, com as autoridades estimando pelo menos seis meses até as primeiras conclusões.
O chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, afirmou em 7 de maio no Parlamento que levará tempo até haver uma resposta, por ser necessário examinar 756 milhões de informações, e garantiu que o Executivo vai “esgotar todas as hipóteses” para entender o ocorrido, “assumir e cobrar responsabilizações” e implementar ações para evitar repetições.
Fontes governamentais admitiram, em conversa com repórteres em Madrid, que pode nunca haver uma causa definitiva ou única para o blecaute, mas é preciso pelo menos reduzir o “oceano de possibilidades” atual para “um conjunto limitado“, que permita adotar medidas preventivas.
“Neste momento, não há nenhuma prova concreta que indique que o incidente foi causado por excesso de fontes limpas ou falta de usinas atômicas em Espanha”, disse Sánchez no mesmo discurso.
O embate político no país em torno do apagão tem girado em torno do crescente peso das energias verdes na matriz elétrica, com a oposição conservadora a criticar o Governo progressista pelo plano de desativar as centrais nucleares.
Os críticos também acusam o Executivo de ignorar alertas dos agentes do setor sobre a instabilidade causada por altas parcelas de fontes renováveis no sistema.
O Governo rebateu que o consumo energético era baixo no momento do colapso e que a participação das renováveis era similar à de dias anteriores. Além disso, destacou que a tecnologia limpa atual é muito mais avançada que há uma década, com mecanismos para controlar instabilidades.
As autoridades também afirmaram, com grande segurança, que não houve insuficiência na infraestrutura e que a rede existente está adequada às demandas atuais, com capacidade para lidar com grandes perturbações.