Apesar de estarmos em plena crise pandémica, os preços das casas não têm sofrido uma baixa significativa. Uma realidade que se pode explicar pelo interesse de alguns Fundos na aquisição de imóveis, com a perspectiva de os poder rentabilizar após o fim da pandemia.
Este cenário é traçado pelo arquitecto Tiago Mota Saraiva que é o coordenador do programa governamental Bairros Saudáveis que foi criado em Julho deste ano, no âmbito do combate à covid-19, para criar melhores condições de saúde e de vida em zonas de maiores dificuldades financeiras.
O Jornal de Negócios avança que os preços das casas aumentaram em quase todas as capitais de distrito, verificando-se uma “desaceleração dos valores” nas cidades mais caras como Porto e Lisboa.
Nesta altura, em tempos de grave crise económica provocada pela pandemia, seria de esperar que os preços tivessem caído mais, não só no caso das vendas, mas também nos arrendamentos.
Tiago Mota Saraiva repara, em entrevista ao jornal i, que se verifica “uma redução muito pouco significativa“, o que mantém vivo “o problema” do mercado da habitação que o arquitecto diz estar “a crescer numa nova forma”.
“Por um lado, percebemos que há gente aflita a colocar à venda os seus imóveis porque está com carências económicas. Por outro lado, também sabemos que há um conjunto de entidades, nomeadamente fundos imobiliários, que continuam a operar e a acumular“, destaca Tiago Mota Saraiva.
O coordenador do Bairros Saudáveis vinca que o fenómeno “acontece sobretudo nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, mas também noutros territórios com potencial interesse turístico, na expectativa que é aguentar este período até haver vacina, porque têm a noção que, depois, vai voltar tudo ao mesmo“.
“Problema da habitação resolve-se com cooperativas”
O arquitecto acrescenta que a pandemia “fez com que a bomba-relógio [do mercado da habitação] fosse rebentando aos poucos”, continuando a haver escassez de imóveis para arrendar ou para vender a preços mais acessíveis.
“A pandemia veio pôr a nu os problemas que já existiam”, reforça Tiago Mota Saraiva, notando que até as pessoas sem casa própria perceberam que não conseguiam “fazer o confinamento porque não tinha condições para estar em casa”.
O arquitecto destaca que “o problema da habitação tem de ter uma resposta pública e que já está anunciada através da criação de bolsas de imóveis por parte da Secretaria de Estado, mas que é insuficiente”.
“Há uma disposição para aumentar significativamente a oferta pública, mas estamos com níveis muito baixos, continuamos com 2% da oferta de habitação pública a nível nacional”, lamenta ainda.
“O problema da habitação resolve-se com cooperativas ou com fundos de terras comunitárias”, diz também o arquitecto, dando o exemplo de outras cidades europeias.
O programa Bairros Saudáveis vai estar em vigor até Dezembro de 2021 e pretende actuar em bairros mais vulneráveis, tendo por objectivo “criar parcerias de base local, em que haja a identificação de um problema, ou seja, um diagnóstico, e que as próprias entidades, de base local, as pessoas, se organizem para o resolver”, como explica Tiago Mota Saraiva ao Contacto, jornal de Língua Portuguesa no Luxemburgo.
“O programa financia projetos até 50 mil euros, tem uma dotação orçamental de 10 milhões de euros e destina-se a todo o país”, acrescenta ainda o arquitecto.