Os transplantes de córnea em Portugal registaram um aumento significativo em 2023, segundo dados do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST). Foram realizados 1135 transplantes, um incremento de 69,7% em relação ao ano anterior. Este crescimento deve-se a um aumento de 58% no número de dadores, 61,5% mais córneas colhidas e 19,5% mais córneas importadas para atender à crescente demanda.
João Feijão, médico oftalmologista e coordenador do Grupo Português de Cirurgia Implanto-Refrativa da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO), explica que o transplante de córnea consiste na substituição total ou parcial da córnea danificada por uma saudável de um dador. Este procedimento é crucial para muitos pacientes, sendo em algumas situações a única solução para recuperar a visão.
Diversas condições podem levar à necessidade de um transplante de córnea. Entre elas estão as ectasias, como o queratocone; distrofias, com destaque para a distrofia de Fuchs; cicatrizes resultantes de traumatismos físicos, químicos ou infeções oculares, como herpes ocular e queratite fúngica; perfurações oculares, traumáticas ou não; descompensações da córnea após cirurgias oculares anteriores e rejeição de transplantes prévios.
Os transplantes são realizados tanto em hospitais públicos quanto em centros privados autorizados. Os principais benefícios incluem a restauração da visão, redução do desconforto ocular e, em alguns casos, a preservação do globo ocular. Embora nenhum procedimento cirúrgico seja completamente isento de riscos, os transplantes de córnea atuais, especialmente os parciais, apresentam menos complicações. As principais preocupações são infeções e rejeições. A preparação envolve a colheita da córnea de um dador, sua preservação em meio apropriado e o corte conforme as necessidades do paciente.
Nas últimas duas décadas, houve avanços significativos na técnica e nos materiais utilizados nos transplantes de córnea. O século XXI testemunhou um aumento nos transplantes parciais, que agora superam os totais. Estes apresentam uma recuperação mais rápida, menor risco de rejeição e infeções, além de melhor manutenção da integridade do globo ocular.
Apesar dos progressos, ainda existe uma lista de espera superior ao desejado. As doenças da córnea continuam a ser uma causa frequente de perda de visão, necessitando de um aumento contínuo de doações e melhorias no sistema de transplantes para atender à demanda crescente.
Os avanços técnicos e o aumento no número de transplantes de córnea em Portugal são encorajadores, mas a necessidade de doações contínuas e a gestão eficiente das listas de espera são essenciais para garantir que mais pacientes possam recuperar a visão e melhorar a qualidade de vida.