Com mais de 99% dos votos apurados, as eleições legislativas portuguesas de 18 de Maio de 2025 traçaram com nitidez a nova configuração política do país. A coligação de centro-direita Aliança Democrática (AD), liderada por Luís Montenegro, obteve 32,7% dos votos, assegurando a primeira posição. O Partido Socialista (PS) e o Chega repartem o segundo lugar, ambos com cerca de 23%, sinalizando uma transformação profunda no equilíbrio parlamentar.
Força da coligação e declínio do bipartidarismo
A vitória da AD não se explica apenas pelo desempenho do PSD, mas sobretudo pela articulação estratégica com outras forças do centro-direita. Como bem sintetiza uma análise independente: “O AD venceu e isso tem relação com a coligação que determinou ser centro-direita. Se fosse apenas o antigo PSD, possivelmente não teria a mesma força.” Assim, a AD apresenta-se como núcleo agregador da direita moderada, reposicionando-se como eixo de estabilidade e liderança governativa.
Distribuição de mandatos e recuo socialista
A AD elegeu 89 deputados. PS e Chega surgem empatados, com 58 mandatos cada, num Parlamento fragmentado, mas revelador da nova correlação de forças. Os restantes partidos obtiveram representações residuais (Iniciativa Liberal 9, Livre 6, CDU 3, entre outros). O resultado do PS é o pior desde a década de 1980, levando à demissão de Pedro Nuno Santos e confirmando um padrão já observado noutros contextos: “O PS venceu em regiões mais pobres, um gráfico comum da esquerda em todo o mundo.”
Ascensão do Chega e reorganização da direita
A rápida ascensão do Chega, partido fundado há poucos anos, constitui um dos factos mais relevantes destas eleições. A sua colocação como segunda força política nacional reflecte um crescimento abrupto do voto à direita fora dos moldes tradicionais: “O Chega em segundo, mostra o quão rápido à direita cresceu em Portugal, um partido novo, mas que toma proporções rápidas de crescimento.” As palavras de André Ventura, declarando o fim do bipartidarismo, traduzem um fenómeno sistémico: o esgotamento da alternância clássica PS/PSD e o alargamento do espaço político à direita radical.
Portugal em transição estrutural
As eleições de 2025 não representam um episódio isolado, mas antes um momento de inflexão na arquitectura política nacional. A consolidação da direita, a fragmentação da esquerda e a emergência de novas forças disruptivas apontam para uma transição de fundo. A estabilidade futura dependerá da capacidade da AD em negociar apoios sem descaracterizar o seu programa. Para a Europa, Portugal reflete uma tendência alargada de redefinição do centro político sob o efeito de forças polarizadoras, populistas e anti-sistema.
A democracia portuguesa entra, assim, num novo ciclo — mais competitivo, menos previsível e exigente em termos de pactos e governabilidade.