Manuel Matola
A Organização Internacional das Migrações (OIM) apelou às comunidades de acolhimento a recorrerem à ajuda de intérpretes para melhorar a comunicação com as pessoas migrantes por considerar que esses especialistas “permitem um melhor acesso à informação e evitam falhas de comunicação” no país de chegada.
“Porque é que as pessoas intérpretes têm um papel fundamental na integração de pessoas migrantes?”, questiona a OIM numa nota emitida este fim de semana na sua página oficial da rede social Facebook.
E, em jeito de resposta à pergunta, recomenda: “Sempre que possível, as comunidades de acolhimento devem recorrer à ajuda de intérpretes para melhorar a comunicação com as pessoas migrantes, pois estas permitem um melhor acesso à informação e evitam falhas de comunicação”.
Para a OIM-Portugal, existem “alguns truques” que podem utilizar “para ajudar o trabalho das pessoas intérpretes”, como, por exemplo, “a partilha de documentos relacionados com o tema, para [estes profissionais] estarem mais preparad@s para a conversa” com as pessoas migrantes.
Atualmente, Portugal acolhe cerca de 700 mil pessoas migrantes provenientes de mais de 170 nacionalidades reconhecidas oficialmente pelo Estado português.
Num artigo divulgado no dia 24 maio de 2020 sobre o impacto da Covid-19 no turismo, o jornal Observador estimava que em Portugal havia 337 mil postos de trabalho diretos relacionados com o turismo, que integra os guias-intérpretes. Destes 337 mil profissionais, cada um acompanhava 1200 turistas/ano, antes da eclosão da Covid-19, sendo que, em média, anualmente acompanhavam 840 mil visitantes.
Um estudo datado de 2020, logo após a eclosão da Covid-19, divulgado no Journal of Tourism & Development por Ilídia Carvalho indica que os guias intérpretes, que fazem parte dos principais Profissionais de Informação Turística, “são uma das profissões que mais sofreu com a crise sanitária” e estimava que esta seria uma das profissões que “mais dificuldade” teria em recuperar dos efeitos da pandemia.
Durante a fase da Covid-19, instituições europeias e intérpretes freelance chegaram a um acordo visando regulamentar a interpretação à distância para as situações de interpretação simultânea em que os intérpretes de uma mesma cabina não se encontrassem no mesmo local (Non co-located simultaneous remote interpretation – NCSRI, em inglês).
De acordo com a Associação Portuguesa de Intérpretes de Conferência (APIC), os intérpretes contratados para trabalhar nestas condições teriam uma bonificação de 25% na sua remuneração diária.
Mas, diz a APIC, esta modalidade de interpretação seria considerada apenas enquanto durasse a pandemia e era exclusiva aos casos em que não fosse “de todo” possível a interpretação presencial ou em hub.
Numa perspetiva ligeiramente diferente, Orquídea Coelho e Ana Rodrigues publicaram, em 2019, na Revista Online da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal um estudo sobre “Avaliação da profissão de intérprete de língua gestual” em que apontavam para importância deste profissional na sociedade por ser quem “atua na intermediação cultural e na fronteira entre as culturas ouvinte e surda”.
Segundo as autoras, embora exista quem considere o intérprete como “mal necessário ele é o profissional que traduz a língua, a história e a subjetividade da comunidade surda e a apresenta ao mundo ouvinte”.
Na nota emitida este fim de semana, a agência da ONU para as Migrações não faz referência a este grupo profissional nem a pessoas migrantes na condição de surdez. (MM)