A cidade mais populosa da Suíça, Zurique, será palco, no próximo dia 29 de outubro, da 2ª. Edição da Gala Afrodescendentes, onde os organizadores pretendem prestigiar os feitos dos que ontem e hoje estão a fazer coisas extraordinárias nas suas áreas de atuação na Europa. Este é o segundo evento do género que a cidade helvética acolherá depois da pandemia. Mas este ano terá um novo formato, embora mantendo o mesmo propósito: enaltecer os vivos e “não valorizar as pessoas só quando estão mortas”, diz a coorganizadora do certame Ana Paula Augusto em entrevista ao jornal É@GORA. Acompanhe:
Em termos práticos, qual é a diferença entre a 1ª e a 2ª edição da Gala de Afrodescendentes-Zurique?
Terá um novo formato, nomeadamente a nível de palco.
E em termos de patrocinadores…
Continuamos com as mesmas dificuldades de obter patrocínio. O único patrocinador é a cadeia de padaria do Carlos Félix.
Outra diferença?!
No ano passado não conseguimos levar as pessoas homenageadas a conhecer Zurique. Este ano a ideia é dá-los a conhecer um bocadinho o turismo da Suíça.
No ano passado, foram 23 homenageados. Este número mantém-se ou houve alteração?
Este ano temos 15 homenageados.
Por que a alteração?
Como tivemos que fazer algumas mudanças ao nível de troféu, achamos por bem não estender muito a cerimónia. Normalmente quando há muitos homenageados a Gala acaba por ficar extensa. O nosso objetivo não é esse. Mas o de ter o momento para os homenageados e depois estes aproveitarem mais o convívio uns com os outros.
A redução de número de homenageados pressupõe a redução de número de categorias?
Não. Temos todas as categorias, apesar da redução de homenageados.
Deixa-me perceber este ponto: a não alteração das categorias significa que no ano passado mais de uma pessoa terá sido homenageada na mesma categoria?
Sim.
E quais são essas categorias que hoje estão comprimidas a uma só pessoa?
Falando por alto, temos por exemplo, dois ativistas e este ano só temos um; também tivemos dois jornalistas e este ano só temos um…
Em termos de mensagem, o que esta Gala pretende passar?
A importância de nós africanos termos representatividade. Se formos a ver, não há muita representatividade [em eventos destes]. Tem havido galas em que se homenageia europeus, mas muitos africanos nunca tiveram oportunidade [de serem prestigiados]. Então, a Gala Afrodescendentes-Zurique vem para homenagear e prestigiar essas pessoas. Não queremos só valorizar as pessoas quando estão mortas, mas quando ainda estiverem vivas. O nosso objetivo é mesmo esse valorizar os nossos afrodescendentes.
O que ditou a homenagem do Bonga havendo uma nova geração de músicos que está a projetar a África lusófona a nível internacional?
Bonga tem 50 anos de carreira, já tem 80 anos e não só… Mas temos outros [galardoados] que estão a começar, não só nesta área. A ideia é valorizarmos não só as pessoas que já estão há muito tempo nas suas áreas, como também as que estão a começar.
O que está a ditar essa dificuldade de aquisição de parceria para um evento destes que – até se quisermos discutir – serve para potenciar aquilo que é o processo de integração?
Como ainda estamos numa 2ª Edição, talvez as pessoas não estejam a dar tanta credibilidade. Acredito que no próximo ano ou nos anos vindouros as pessoas possam olhar para o evento com outros olhos.
E aquilo que é o vosso olhar em relação aos empreendedores afrodescendentes: tem havido alguma sensibilidade da parte dos empreendimentos afrodescendentes em olhar para este tipo de iniciativa com entusiasmo para poder contribuir no futuro?
Há empresas [de afrodescendentes] que poderiam estar mais presente. É que depois da pandemia muitas fecharam e muitos proprietários dizem-nos: “neste momento estamos a tentar estabilizar depois destes dois anos fechados”. E nós tentamos compreender essa situação.
Então, houve aqui um impacto da Covid-19 naquilo que poderia ser a resposta dos próprios empresários afrodescendentes no apoio a essa Gala?
Vejo mais por esse lado, porque quando batemos as portas e mandamos e-mail, essas são as respostas que nos têm enviado demonstrando que não estão muito estabilizados financeiramente para nos poder patrocinar.
IGUALDADE DE GÉNERO
Há pouco falávamos do número de homenageados. No ano passado, dos 23 homenageados houve um número relativamente baixo de participação de mulheres. Como é que estão a lidar com essa questão de equilíbrio de género?
Hoje em dia já temos muitas mulheres que estão a fazer algo em prol da nossa sociedade, mas muitas vezes essa também é dificuldade que nós temos: a de chegar às pessoas [com feitos extraordinários para serem homenageadas].
O que a organização desta Gala pensa relativamente à própria projeção dos homenageados além-fronteira? É só uma homenagem àquilo que eles estão a fazer ou no fim do dia a vossa proposta visa eventualmente colocar essas pessoas num patamar mais alto do ponto de vista de divulgação daquilo que estão a fazer para conseguirem muito mais mercados? Será esse o objetivo da Gala?
Dizer que no ano passado, nós tivemos a estilista Ana de Sá, que foi uma das nossas homenageadas, que depois disso fez alguns trabalhos em Londres (Reino Unido) como aqui em Portugal e nós estávamos a acompanha-la nesse projeto; isso para dizer que nós não abandonamos os nossos homenageados depois de serem reconhecidos. Estamos sempre aí para os apoiar.
Como está a ser a questão logística da cerimónia?
Aos homenageados – os que puderem chegar sexta-feira – voltam no domingo. Há uns que só vão poder ir no sábado.
Sendo esta uma homenagem aos afrodescendentes, como é que ela se reflete ao nível da própria África. Qual e como lode ser o acompanhamento da Gala: haverá uma transmissão online ou através da televisão?
Vamos estar online nas redes sociais a transmitir pontualmente alguns momentos da Gala. A RTP-África, através do programa Bem-Vindos, e a TPA (Angola) vão estar lá a fazer cobertura, o que vai permitir que as pessoas acompanhem o evento. (MM)