Na última quarta-feira, dia 11, uma jornalista do canal Al Jazeera morreu enquanto cobria uma operação do exército israelense em um campo de refugiados em Jenin, na Cisjordânia. Autoridades palestinas e o Al Jazeera acusaram Israel pela fatalidade, mas não houve confirmação in loco ou checagem confiável das informações. Um vídeo divulgado na conta oficial do Ministério das Relações Exteriores de Israel no Twitter, mostra palestinos dizendo que haviam acertado um soldado israelense, que teria caído no chão. No entanto, nenhum oficial se feriu durante a operação, o que indica que a repórter pode ter sido atingida por tiros palestinos. “Esta manhã, em Jenin, os terroristas foram ouvidos dizendo: ‘Atingiram um, acertaram um soldado, ele está deitado no chão’. Mas nenhum soldado IDF foi ferido em Jenin. Terroristas palestinos, disparando indiscriminadamente, provavelmente atingiram a jornalista da Al-Jazeera Shireen Abu Aqla”, afirma a instituição pela rede social.
Israel ofereceu uma investigação em conjunto com a Autoridade Palestina, que se negou a cooperar. O exército israelense confirmou que realizava uma operação no campo de refugiados de Jenin, e citou uma troca de tiros entre suspeitos e as forças de segurança, mas negou ter atirado contra jornalistas.
Os confrontos começaram depois que as forças da IDF, Shin Bet e da Polícia de Fronteira realizaram operações de prisão em vários locais da Cisjordânia. “Durante a operação no campo de refugiados de Jenin, suspeitos dispararam uma enorme quantidade de tiros contra as tropas e lançaram dispositivos explosivos improvisados. As forças revidaram com fogo real”, disse o exército israelense em comunicado. Os militares disseram que nenhum soldado foi ferido ou morto nos confrontos.
André Lajst, cientista político e presidente executivo da StandWithUs Brasil, conta que o local, ao norte da Cisjordânia, é conhecido por ser um reduto de grupos armados palestinos, que exercem autoridade total na região. “A jornalista estava cobrindo uma região perigosa, no campo de refugiados de Jenin, onde há construções irregulares, estreitas, e centenas de homens palestinos armados que exercem lá autoridade máxima, proibindo a entrada do governo. Vários terroristas que cometeram os últimos atentados em Israel, que resultaram em pelo menos 19 mortes desde o final de março, são provenientes da cidade de Jenin”, conta o especialista.
O Chefe do Exército israelense prometeu investigar completamente as circunstâncias do ocorrido e um comandante militar disse à AFP que “(o exército) certamente não ataca jornalistas”. O primeiro-ministro Naftali Bennet se pronunciou nesta manhã reforçando a teoria de que os disparos teriam vindo do lado palestino, reportando que “de acordo com as informações que coletamos, parece provável que palestinos armados – que estavam atirando indiscriminadamente na ocasião – foram responsáveis pela infeliz morte da jornalista”.
Enquanto isso, autoridades palestinas culpam Israel pela morte da profissional, chamando o caso de “execução”, e uma fonte do grupo terrorista Hamas, que controla a Faixa de Gaza, afirmou que a morte foi um “assassinato premeditado”. O Al Jazeera disse que a vítima, de 51 anos, foi assassinada “deliberadamente e a sangue frio” pelas forças de Israel.
O caso agrava ainda mais a tensão entre israelenses e palestinos, uma vez que Israel tem sido palco de vários atentados nos últimos meses. Dentre os últimos ataques, quatro foram perpetrados por palestinos, incluindo três jovens de Jenin, local onde a repórter estava e onde o exército israelense intensificou as operações nas últimas semanas em busca de terroristas.
Ainda segundo André Lajst, a morte da jornalista foi uma fatalidade, mas a mídia está tratando o caso como se Israel tivesse deliberadamente matado uma profissional da imprensa. “A tragédia da morte da jornalista palestina da Al Jazeera não pode ser desfocada ou tirada de contexto. A tentativa de imputar a morte dela nas costas de Israel é mais uma forma de demonizar e deslegitimar Israel. Na dúvida, Israel é o culpado. Não neste caso, uma vez que o exército israelense não atiraria em automático e ao léu, muito menos de forma intencional, de forma a atingir uma pessoa inocente”, afirma.
Uma autópsia inicial do corpo da vítima feita apenas por legistas palestinos disse que ela morreu depois de ser atingida na cabeça por uma bala disparada a vários metros de distância. Não foram divulgadas informações sobre o tipo de armamento, o que poderia dizer se a vítima foi atingida por israelenses ou palestinos. Mas o porta-voz militar israelense Ran Kohav confirmou ao The Jerusalem Post que os palestinos se recusaram a investigar o incidente com Israel, e disse à emissora pública Kan que não acha que as forças israelenses mataram a repórter: “Acho que não a matamos. Oferecemos aos palestinos uma rápida investigação conjunta. Se realmente a matarmos, assumiremos a responsabilidade, mas não parece ser o caso”, disse ele, acrescentando que enquanto os palestinos “podem ter uma boa razão” para não cooperar em uma investigação conjunta, “se o fizerem, teremos respostas melhores”.