Imagine um artista de mão cheia, que, com apenas dez anos de idade, “descobriu” o seu
talento e começou a fazer pintura com tinta acrílica e desenho a carvão. Agora, imagine
também alguém com um brilho nos olhos quando o assunto são os seus trabalhos e a
oportunidade de poder levar, com a sua arte, o nome de Portugal cada vez mais longe. Este é
Telmo Guerra, nascido em 1974 na Covilhã, região Centro de Portugal, e que vive, desde 2012,
na Suíça, em Neuchâtel.
“Em 2012 emigrei para a Suíça e essa mudança na minha vida influenciou todo o meu trabalho
artístico, por isso, digo que ‘felizmente emigrei e encontrei o meu caminho. Como diz José
Saramago: ‘É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós’’. Esta
mudança fez-me ver o meu país de uma forma diferente e, ‘desde que saí da ilha’, dediquei-
me a fazer sobretudo gravura em baixo-relevo com motivos da cerâmica portuguesa”, revelou
Telmo Guerra.
Atualmente, Telmo Guerra faz, sobretudo, gravuras “porque foi com esta forma de arte que o
‘’Homem’’ começou a escrever a nossa história nas cavernas há cerca de 40 mil anos. Eu
pretendo usar a mesma forma de arte milenar para deixar memórias do nosso tempo presente
para que fiquem registadas para o futuro’’.
“Considero que, na gravura, existe uma poesia visual impossível de ser reproduzida noutra
forma de arte. Talvez por estar associada ao “Homem pré-histórico” e ser a primeira forma
que os nossos antepassados usaram para gravar a nossa história. Faço principalmente gravura
com rostos porque considero que a imagem de alguém tem mais capacidade de nos
desassossegar, mas o que eu pretendo é combinar o rosto com elementos da cultura
portuguesa, especialmente os motivos da azulejaria portuguesa e a Cruz de Portugal ou Cruz
da Ordem de Cristo porque são elementos da nossa pátria e dessa forma represento Portugal
nas minhas peças”, confessou este artista.
“Durante o meu processo evolutivo como artista, usei também muitas vezes tinta de esmalte,
usada sobretudo para pintar metais, por causa da influência de “Pollock”, um artista que muito
aprecio”, revelou Guerra, que sublinhou que, no ano 2000, iniciou “as primeiras gravuras em
baixo-relevo, porém, sempre de forma muito esporádica”.
No âmbito de uma iniciativa voltada para a comunidade portuguesa na Suíça, o público
presente pode conhecer alguns dos trabalhos de Telmo Guerra. Uma das principais obras
“talha” a imagem do escritor José Saramago em duas portas de madeira, que, lado a lado, dão
lugar a um painel composto por muita habilidade na gravura e cheio de emoção por
homenagear este grande nome da literatura portuguesa. Telmo Guerra deixou escapar ainda
que um dos seus maiores desejos é ceder a referida obra para a Fundação José Saramago, em
Lisboa, com o pretexto de que este ano se celebra o centenário de nascimento do primeiro e
único prémio nobel de literatura em Portugal.
“Uso muitas vezes portas para criar as minhas obras, porque uma ‘Porta’ representa
esperança, oportunidades, novos começos e transformação. Representa a abertura de novas
possibilidades e desafios. Quando uma porta se fecha, outra porta se abre, porque há sempre
uma porta por abrir. Abrir a porta permite passar do conhecido ao desconhecido, do profano
ao sagrado, do material ao espiritual ou das trevas para a luz. A porta simboliza a abertura da
consciência, o caminho espiritual em que cada porta corresponde a um nível diferente de
compreensão. O objetivo é transmitir com o uso de uma porta a possibilidade de um novo
começo, uma nova oportunidade, um novo desafio, porque nada se perde, tudo se
transforma”, defendeu Guerra.
A obra que homenageia Saramago foi apreciada pelo público, por membros do Consulado-
Geral de Portugal em Genebra, que consideram oportuno tê-la presente nessas instalações
consulares nos próximos dias, em exposição, e pelo deputado português Paulo Pisco, eleito
pelo círculo europeu.
Pelas mãos deste profissional, os trabalhos artísticos ganham uma nova dimensão.
“Trabalho sobre praticamente todos os tipos de material. Desde madeira, vidro, ferro, betão,
cerâmica, pedra, etc. (…) Outro material que utilizo com frequência é a cerâmica devido à
tradição dos azulejos portugueses. A cerâmica é um material extremamente resistente que
não se degrada com o tempo, o que permite criar uma peça eterna”, reforçou.
“Eu valorizo, sobretudo, o processo intelectual da gravura porque, através desta forma de arte,
o ‘invisível torna-se visível’. Como numa escultura, a forma já está presente no objeto, ‘o
artista só precisa remover camadas para revelar a verdadeira forma o que permite preservar a
identidade e história do objeto’. E é a história que nós devemos preservar, porque sem
memória não existimos, sem memória não podemos existir”, finalizou Telmo Guerra, que tem
como principais obras uma pintura para o Papa Francisco, peça para o presidente da República
Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, peça para o Museu de António Guterres, presidente da
ONU em Donas / Portugal, peça para o Comité Olímpico de Portugal, peça para o Comité
Olímpico Internacional em Lausanne – Suíça, peça para o ”Mestre José de Guimarães”, peça
para o ”Mestre Manuel Cargaleiro”, peça para a Cidade de La Chaux-de-Fonds, peça para a
Federação Internacional de Voleibol em Lausanne, peça para a Cidade da Covilhã, entre outras
iniciativas.
Mais informações sobre o artista podem ser encontradas em: https://telmoguerra.ch/pt/
Ígor Lopes