Manuel Matola
O advogado e escritor moçambicano Miguel Luís, que vive em Portugal, vai lançar na próxima quinta-feira, em Lisboa, o livro “O Desamparo das Flores” que procura ecoar a questão de sequestros e tráfico de menores em Moçambique, onde até se exige às familias das vítimas regaste em criptomoedas.
O fenómeno social descrito na obra remete à infância do autor nos bairros assombrados pelos famosos carros dos “tatá pápá, tatá mamã” (“adeus papá, adeus mamã”), nome por que eram conhecidos bandos de traficantes que raptavam menores nos finais dos anos 90 naquele país lusófono.
“Aliás, a obra surge num momento em que o fenómeno do desaparecimento ‘misterioso’ de menores faz o dia-a-dia de quase todos” os moçambicanos e de famílias estrangeiras residentes naquele país, diz o autor, atualmente imigrante em Portugal, numa nota enviada ao jornal É@GORA.
O “Desamparo das Flores”, já lançado no passado mês de abril, em Maputo, foi a obra vencedora do Prémio Literário Maria Odete de Jesus 2020, promovido pela Universidade Politécnica, em Moçambique.
Em Lisboa, o lançamento terá lugar no próximo dia 1 de junho, a partir das 18:00, no Auditório da Abreu Advogados – Av. Infante D. Henrique, n.º 26, em Lisboa.
Na nota, o autor explica que, embora apresente flores no título, a obra “é, no fundo, uma elegia que procura ecoar a questão de sequestros e tráfico de menores em Moçambique”, onde nos últimos anos se instalou o pânico em várias famílias moçambicanas e estrangeiras de todos os estratos sociais.
Nos dias que correm “são diversas famílias, nas redes sociais, e não só, que partilham, diariamente, fotografias de crianças desaparecidas e até de pessoas crescidas”, lembra Miguel Luís sobre denúncias possíveis que são feitas por quem consiga propagar os casos junto do público urbano do país. Nas zonas rurais há situações que nunca chegam ao conhecimento de quem viva em regiões com acesso aos serviços de internet ou circulação dos “Media” mainstream.
Em abril, a Procuradora-Geral da República de Moçambique, Beatriz Buchili, disse no parlamento que alguns casos de raptos têm sido planeados em diversos estabelecimentos prisionais moçambicanos onde alguns autores destes delitos “têm recorrido a vários esquemas, dentro ou fora do país”, incluindo a exigência do pagamento de resgate “através de criptomoeda ou de meios informais para dificultar” a sua detenção.
A maior parte dos casos planeados a partir da prisão visam vítimas adultas, sendo os alvo preferenciais famílias ricas de origem portuguesa e asiática residente em Moçambique e que têm vindo a abandonar o país.
Mas no livro “Desamparo das Flores”, Miguel Luís vai falar sobretudo de vítimas de menor idade.
“A cidade de Maputo, e não só, transformou-se, nos últimos dias, num enorme jardim de ‘flores desamparadas’”, pelo que o livro “é para mim um grito contra aqueles que tentam transformar as crianças em flores murchas”, lê-se na nota sobre um comentário que tem sido feito pelo autor em diversos momentos.
“Esse livro é também constituído por farrapos, em parte, da infância do autor, das suas peripécias infantis dentro e fora da família. É também um regresso à infância nos bairros assombrada pelos famosos carros dos ‘tatá pápá, tatá mamã’”, refere o mesmo comunicado.
O livro será apresentado por Ana Mafalda Leite, Professora Associada de Literatura da Universidade de Lisboa e a sessão será moderada por João Vacas, Consultor da Abreu Advogados.
A sessão de lançamento contará igualmente com uma breve encenação teatral, por Venâncio Calisto e Assucena Daniel, inspirada na obra.
Miguel Luís (Miguel Luís José) nasceu em Maputo, Moçambique. Frequentou o curso de Licenciatura em Relações Internacionais e Diplomacia na Universidade Joaquim Chissano( Maputo). É licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. É Mestre em Estratégia de Investimento e Internacionalização pelo Instituto Superior de Gestão. É Advogado associado da firma de advogados portuguesa Abreu Advogados. Actualmente preside o Grupo de Jovens Advogados da Federação de Advogados de Língua Portuguesa e é Secretário da Mesa da Assembleia Geral da Câmara de Comércio Portugal Moçambique.
O advogado e escritor tem textos publicados em diversas antologias e jornais portugueses e moçambicanos, com destaque para os moçambicanos O País, Carta de Moçambique, Canal de Moçambique e o jornal português Público.
Em 2015 foi atribuído a Menção Honrosa do Prémio Eloquência Camões. Em 2020 foi atribuído a Menção Honrosa do Prémio Literário Hernâni Cidade e em 2021 o seu livro “O Desamparo das Flores “, venceu o Prémio Literário Maria Odete de Jesus.
A edição 2020 do Concurso Literário Maria Odete de Jesus, promovido pela Universidade Politécnica, esteve aberta à literatura infanto-juvenil (prosa).
O júri foi constituído por professor de literatura, que presidiu o painel, Maria João de Ataíde Carrilho Dinis, pesquisadora de língua portuguesa, e Teresa Noronha, escritora e editora. (MM)