Tiago Petinga / Lusa
A embaixadora e ex-MPE, Ana Gomes
Ana Gomes criticou duramente a atuação das autoridades portuguesas, que fecham os olhos ao branqueamento de capitais que foi feito em Portugal. A ex-eurodeputada defende que há “gente muito poderosa” cúmplice da corrupção angolana em Portugal.
Em entrevista à Rádio Observador, comentou a reação da empresária angolana ao arresto dos seus bens decretado pela justiça angolana. Isabel dos Santos argumenta que não lhe foi dada oportunidade para se defender e disse que tudo isto se trata de um “ajuste de contas” contra a sua família.
Por sua vez, Ana Gomes disse que a empresária não se pode queixar, porque isto é “consequência do esquema da cleptocracia que foi instaurada em Angola pela família dos Santos”.
A troca de acusações entre Ana Gomes e Isabel dos Santos parece não conhecer fim. Depois de uma publicação no Twitter, na qual Ana Gomes acusou Isabel dos Santos de “lavar que se farta” e o Banco de Portugal de fechar os olhos, a filha do antigo presidente angolano apresentou uma ação cível contra a ex-deputada europeia.
A partir daí, a polémica entre as duas apenas se intensificou. “Se isto não é verdade, convido Isabel dos Santos a pôr-me um processo-crime”, atirou, em tribunal, a socialista. Além disso, disse que que queixa de Isabel dos Santos é uma “tentativa sinistra” de a silenciar.
Agora, a antiga eurodeputada acusou as autoridades portuguesas de fecharem os olhos ao branqueamento de capitais que foi feito em Portugal através de várias sociedades e negócios. Segundo Ana Gomes, isto acontece porque há “gente muito poderosa” cúmplice da corrupção angolana em Portugal, da justiça à política.
A antiga diplomata considera ainda que aquilo que for arrestado em Angola não chega para ressarcir o estado angolano daquilo que a justiça considera que pode estar em causa, já que é “apenas uma parte do património que foi apropriado por parte da senhora engenheira e pela cleptocracia que ela representa”.
Para além das autoridades portuguesas, Ana Gomes critica a atuação dos supervisores, nomeadamente a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e o Banco de Portugal (BdP). “Tenho atuado, há bastante tempo, para pedir às autoridades portuguesas que não continuem a ser cúmplices do roubo ao Estado e povo angolano“, atirou.
A política portuguesa realça que fez chegar às autoridades portuguesas uma série de documentos que provam a utilização de bancos e instituições portuguesas para operar branqueamento de capital. E reitera: “Infelizmente, aqui em Portugal há muita gente cúmplice e beneficiário do saque a Angola, ao povo angolano que a cleptocracia angolana empreendeu nestes últimos anos”.