Diversas instalações de detenção na França foram atacadas durante a madrugada, em possível retaliação às recentes ações governamentais contra o narcotráfico, informaram autoridades nesta terça-feira (15). Segundo relatos, veículos foram incendiados e disparos com armamento pesado foram efetuados em direção a uma penitenciária localizada em Toulon, no sul do país. Ao menos sete estabelecimentos prisionais registraram episódios semelhantes, incluindo ameaças contra servidores.
As investigações ainda não confirmaram se os atos foram organizados por um mesmo grupo ou ocorreram de forma isolada.
O titular da pasta da Justiça, Gérald Darmanin, que tem liderado a ampliação de medidas de contenção e o cerco às facções que operam de dentro dos presídios, anunciou que visitaria a unidade atingida em Toulon. “Houve tentativas de intimidação em várias instituições de custódia, envolvendo desde queima de veículos até rajadas de fuzis”, escreveu o ministro em publicação na rede X. “Estarei em Toulon para demonstrar solidariedade aos profissionais. A França enfrenta de frente o tráfico de entorpecentes e está desmontando estruturas criminosas de forma decisiva.”
Já o Ministro do Interior, Bruno Retailleau, informou ter orientado representantes locais, forças policiais e a gendarmaria a reforçar imediatamente a proteção de servidores penitenciários e das instalações carcerárias. “A resposta do governo precisa ser firme e exemplar. Quem agride instituições e trabalhadores da segurança deve ser confinado sob a vigilância daqueles que atacou”, declarou.
Entre os centros visados estariam, além de Toulon, os complexos de Aix-en-Provence, Marselha, Valence, Nîmes, Villepinte e Nanterre — os últimos dois localizados nos arredores da capital, Paris.
Avanço do tráfico e crescimento da tensão
A França tem vivenciado um aumento expressivo na entrada de cocaína sul-americana, o que impulsionou significativamente o comércio ilegal de drogas no país. Essa expansão vem acompanhada de uma escalada de violência, com facções criminosas se estabelecendo não apenas em grandes centros como Marselha, mas também em cidades menores até então pouco afetadas por esse tipo de conflito.
Esse agravamento da criminalidade organizada tem favorecido o crescimento de partidos nacionalistas e contribuído para um deslocamento da política francesa em direção à direita.
Em fevereiro, o governo anunciou um volume recorde de apreensões: 47 toneladas de cocaína interceptadas nos primeiros 11 meses de 2024 — praticamente o dobro das 23 toneladas apreendidas em todo o ano anterior. Na ocasião, Retailleau descreveu a situação como um “tsunami branco”, fazendo alusão à onda de entorpecentes que redesenhou o cenário criminal no país.
Darmanin, por sua vez, sugeriu uma série de medidas para endurecer o regime carcerário, como o isolamento dos 100 principais líderes do crime organizado atualmente presos.
O Parlamento francês está prestes a aprovar uma legislação mais abrangente contra o narcotráfico, que prevê a criação de uma Promotoria Nacional específica para crime organizado e amplia os poderes investigativos das forças de segurança responsáveis por apurar redes de tráfico.
Em meio à ofensiva, as autoridades celebraram uma vitória simbólica em fevereiro, ao recapturar Mohamed Amra — conhecido pelo apelido de “A Mosca” —, fugitivo que escapou durante um translado entre o presídio e o tribunal, em um episódio que terminou com a morte de dois servidores. O caso foi usado por grupos conservadores como argumento para reforçar a narrativa de que o país estaria perdendo o controle do sistema prisional frente à influência do narcotráfico.