Lideranças europeias tentam traçar um percurso diplomático para alcançar um consenso que limite a intensificação da purificação de urânio pelo Irã até o meio do ano e antes do prazo definitivo de outubro de 2025.
O representante da pasta de Assuntos Externos da França advertiu, nesta quarta-feira (2), que se as nações influentes não firmarem prontamente um novo tratado com Teerã sobre seu polêmico plano atômico, então uma ofensiva armada parece “certa”.
Após o chefe de Estado Emmanuel Macron convocar um encontro excepcional e reservado com ministros e especialistas estratégicos para tratar do tema iraniano, Jean-Noel Barrot elevou o tom de cobrança sobre as autoridades de Teerã.
Os blocos ocidentais argumentam que a iniciativa nuclear representa uma tentativa oculta de fabricar um artefato explosivo de grande impacto. O governo iraniano nega há décadas qualquer intenção de obter armamentos de destruição em massa.
“A margem de tempo é curta. Dispomos apenas de alguns ciclos até a revogação desse pacto (de 2015). Em caso de impasse, um embate militar pareceria quase inexorável”, declarou Barrot em sessão legislativa.
A cúpula diplomática anterior, validada por três fontes próximas, reflete o temor crescente entre aliados da União Europeia de que Washington e Tel Aviv possam recorrer a ofensivas aéreas contra complexos nucleares iranianos caso não haja um entendimento célere sobre o programa.
Os Estados Unidos ampliaram sua presença bélica no Oriente Médio com novas aeronaves táticas, informou o Pentágono na terça-feira (1º), em meio a uma série de investidas contra os houthis, facção que detém controle sobre extensões do Iêmen e recebe suporte iraniano.
Um alto estrategista europeu indicou que analistas estudam a possibilidade de tal movimentação ser um prelúdio para um ataque direto contra Teerã nos próximos períodos.
O ex-presidente Trump, que instou a autoridade máxima iraniana, aiatolá Ali Khamenei, a se engajar imediatamente em diálogos, ameaçou a nação persa no último domingo com bombardeios e taxações secundárias caso não concorde com um novo trato sobre seu arsenal atômico.
O chanceler do principal oponente regional do Irã, Israel, desembarca na capital francesa nesta quinta-feira (3).
Fontes próximas indicaram que os chefes diplomáticos de França, Reino Unido e Alemanha – todos signatários do pacto de 2015 – pretendem tratar do dossiê iraniano com o chefe de relações exteriores dos Estados Unidos, Marco Rubio, em conferência da aliança militar ocidental em Bruxelas.
A administração Trump retirou os EUA do entendimento de 2015, que impunha barreiras rígidas ao desenvolvimento atômico iraniano em troca da suspensão de sanções econômicas.
Desde então, Teerã superou largamente os limites do acordo no que tange ao refinamento de urânio, acumulando reservas de alta pureza físsil, muito acima do que os especialistas ocidentais consideram aceitável para fins energéticos civis e próximo do necessário para dispositivos bélicos nucleares.
Os representantes da União Europeia têm intensificado a pressão diplomática sobre Teerã para convencê-lo a retomar as tratativas sobre limitações ao seu projeto nuclear. Foram promovidas várias rodadas de diálogos, incluindo discussões técnicas na última semana, para tentar construir um terreno comum.
Mas a antiga administração norte-americana priorizou uma estratégia de “pressão absoluta”, o que dificultou a coordenação com parceiros europeus, segundo diplomatas.
As lideranças europeias, que possuem a prerrogativa de restabelecer restrições econômicas totais antes de outubro, esperam persuadir o Irã a iniciar negociações sobre novas travas ao seu plano atômico, visando selar um compromisso até agosto, no máximo.
Isso garantiria tempo suficiente para estabelecer novos marcos regulatórios ao programa iraniano e iniciar a flexibilização das penalidades antes que o pacto de 2015 perca validade em outubro de 2025.