Nas últimas semanas, diversos líderes europeus sublinharam a necessidade de fortalecer a defesa comum da Europa, sugerindo uma espécie de “guarda-chuva nuclear” britânico ou francês, à medida que a confiança em Washington parece diminuir.
É um novo cenário para a Europa.
Chegaram ao fim os anos de um compromisso inabalável dos Estados Unidos com a defesa do continente europeu contra a Rússia.
O que parece ser uma nova realidade – pelo menos enquanto Donald Trump continuar na Casa Branca – é algo mais transacional. E os riscos são elevados.
A Europa tem de “dar um grande passo em frente para assegurar a sua própria defesa”, afirmou o vice-presidente dos EUA, JD Vance, aos responsáveis em Munique, em fevereiro.
A resposta da Europa, até agora, tem sido prometer aumentar os gastos internos e com a Ucrânia, com o objetivo de adquirir armamento de fabrico europeu. No entanto, também foi apresentada uma solução mais radical: um “guarda-chuva nuclear” europeu.
Enquanto os Estados Unidos sempre foram vistos como o irmão mais velho da Europa, a França e o Reino Unido são também potências nucleares estabelecidas – e alguns líderes europeus começam a questionar se a dissuasão definitiva contra Moscovo poderá vir de mais perto de casa.
Embora a maior parte das armas nucleares do mundo pertença aos Estados Unidos ou à Rússia, a França dispõe de cerca de 290 ogivas nucleares, e o Reino Unido conta com 225 mísseis Trident de design americano.
Nas últimas semanas, uma série de declarações de líderes europeus tem indicado o desejo de reforçar a defesa comum sob um “guarda-chuva nuclear” britânico ou francês, à medida que a fiabilidade de Washington parece vacilar.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, comprometeu-se, no início deste mês, a “abrir o debate estratégico sobre a proteção, através da nossa dissuasão, dos nossos aliados no continente europeu”.
As suas declarações ocorreram após o presumível próximo Chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, ter proposto conversações com a França e o Reino Unido sobre a expansão da sua proteção nuclear.
O Primeiro-Ministro polaco, Donald Tusk, referiu que a proposta francesa “não era nova” e tinha surgido várias vezes em conversas anteriores, expressando o seu apoio à ideia.
Outros líderes de países tradicionalmente relutantes em relação às armas nucleares, como a Suécia e a Dinamarca, também acolheram positivamente a abertura da França para com os seus aliados europeus.
Desde que o General Charles de Gaulle estabeleceu a força nuclear francesa no final da década de 1950, em parte para assegurar que Paris permanecesse no centro das decisões globais, o programa nuclear da França tem sido orgulhosamente soberano – “francês de ponta a ponta”, como Macron o descreveu.
No entanto, ao longo de décadas, durante a Guerra Fria, a França também tentou envolver os seus aliados europeus na sua proteção nuclear, explicou à CNN Yannick Pincé, historiador do Centro Interdisciplinar de Estudos Estratégicos (CIENS) de França.
O Reino Unido não fez qualquer proposta pública para partilhar ou alterar a sua proteção nuclear. Contudo, as suas ogivas continuam sob o comando da NATO dominado pelos EUA, oferecendo, assim, já uma proteção estratégica aos aliados europeus.
Alguns líderes ainda esperam um apoio mais robusto dos EUA.
Na quinta-feira, o Presidente polaco, Andrzej Duda, apelou a Donald Trump para que destacasse armas nucleares dos EUA na Polónia, comparando a medida à decisão da Rússia de posicionar alguns dos seus próprios mísseis nucleares na Bielorrússia em 2023.
“Acho que não só chegou o momento, como seria mais seguro se essas armas já estivessem aqui”