ESO / G. Beccari
Uma molécula prebiótica, um ingrediente para a construção da vida, pode formar-se no ambiente hostil do Espaço interestelar, longe de estrelas e planetas.
A glicina, o aminoácido mais simples e um componente importante para a construção da vida, pode formar-se sob as condições adversas que governam a química no Espaço. Segundo o Science Alert, este aminoácido forma-se em densas nuvens interestelares muito antes de se transformarem em novas estrelas e planetas.
Os cometas são o material mais antigo do Sistema Solar e refletem a composição molecular presente na altura em que o Sol e os planetas estavam prestes a nascer.
A deteção de glicina na atmosfera do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko e em amostras da missão Stardust sugere que aminoácidos, como a glicina, são formados muito antes das estrelas. O artigo científico com a descoberta foi publicado no dia 16 de novembro na Nature Astronomy.
Até agora, os cientistas estavam convencidos de que a formação da glicina requeria energia, mas este novo estudo esclarece que é possível este aminoácido formar-se na superfície de grãos de poeira gelada, na ausência de energia, através da chamada “química escura“.
Sergio Ioppolo, da Queen Mary University of London, explicou que a química escura nada mais é do que “a química que não precisa de radiação energética”.
“No laboratório, fomos capazes de simular condições em nuvens interestelares escuras onde partículas de poeira fria são cobertas por finas camadas de gelo e subsequentemente processadas por átomos chocantes que fazem com que as espécies precursoras se fragmentem e os intermediários reativos se recombine”, explicou.
A equipa demonstrou, pela primeira vez, que a metilamina, a espécie precursora da glicina detetada no cometa 67P, pode ser formada. Usando uma configuração única de ultra-alto vácuo, equipada com uma série de linhas de feixe atómico e ferramentas de diagnóstico precisas, os cientistas confirmaram que a glicina também se poderia formar e que a presença de gelo era essencial neste processo.
“A partir disso, descobrimos que quantidades baixas mas substanciais de glicina podem ser formadas no Espaço ao longo do tempo“, resumiu Herma Cuppen, da Universidade Radboud, nos Países Baixos.
“A importante conclusão deste trabalho é que as moléculas consideradas componentes básicos da vida já se formam numa fase muito anterior ao início da formação de estrelas e planetas”, acrescentou Harold Linnartz, diretor do Laboratório de Astrofísica do Observatório de Leiden.
Uma vez formada, a glicina pode também tornar-se um precursor de outras moléculas orgânicas complexas.