O fenómeno do estranho zumbido está relacionado ao esvaziamento de um dos maiores reservatórios de magma ativos descobertos no manto superior da Terra.
Em 2018, uma grande quantidade de misteriosos sinais sísmicos foi detetada em todo o mundo, entre os meses de maio e junho. O estranho zumbido viajou pelo mundo inteiro e despertou a curiosidade da comunidade científica. Agora, uma investigação explica finalmente o que aconteceu.
A quantidade incomum de terramotos teve origem na ilha de Mayotte, no oceano Índico, uma das várias ilhas do arquipélago de Comores, localizado entre o continente africano e Madagáscar. Os cientistas detetaram sete mil terramotos tectónicos, um tipo de sismo que ocorre quando as placas tectónicas se movem uma ao longo da outra. A pressão criada por essas movimentações faz com que ocorram estes terramotos.
Num estudo publicado este mês na Nature Geoscience, uma equipa de cientistas desvendou as atividades sísmicas que levaram ao surgimento do vulcão em Mayotte, seguindo a drenagem do “excecionalmente profundo” reservatório de magma até ao fundo oceânico. Além desta descoberta, descobriram a causa do misterioso zumbido.
O depósito gigante de magma está localizado a cerca de 35 quilómetros de profundidade no oceano Índico, e foi o responsável pelo aparecimento do vulcão subaquático. “Demorou apenas algumas semanas para que o magma se espalhasse do manto superior para o fundo do mar, onde nasceu um novo vulcão submarino”, escreveram os autores do estudo.
Para descobrir o que realmente aconteceu, os geólogos recolheram dados sísmicos de todo o mundo, uma vez que não existe um sismógrafo a monitorizar a ilha de Mayotte. Por esse motivo, foi necessário combinar todas as informações ao redor do planeta que haviam sido registadas nos eventos anteriores.
[embedded content]
A equipa de investigadores percebeu que existiam duas fases: primeiro, o magma acumulado na câmara, de 15 quilómetros de largura, fluía diagonalmente até chegar ao fundo do mar e provocava a erupção da qual nasceria o novo vulcão.
Como resultado, ocorreram “grandes terramotos ao longo do seu caminho até a superfície”. À Live Science, a geóloga Simone Cesca explicou estes sinais corresponderiam aos eventos registados em maio de 2018.
A segunda fase corresponde ao caminho seguido pelo magma, que se tornou uma espécie de “autoestrada” através da qual a câmara foi esvaziada, originando o vulcão. Quando a câmara ficou desocupada, desabou, fazendo com que a ilha afundasse.
Além disto, foram criadas no fundo do mar pequenas falhas e fraturas. Quando os terramotos relacionados ao aparecimento do vulcão e as placas tectónicas “sacudiram” a área acima da câmara, desencadearam o misterioso zumbido.
Apesar de o novo vulcão estar formado, os investigadores sugerem que é provável que surjam novos terramotos que podem abalar a área. Aliás, este argumento explicaria os cerca de dois mil terramotos registados no local, até agora.