HckySo / Flickr
Entre os vários tratamentos para o cancro, existe um que tem um efeito colateral bastante diferente do habitual: os pacientes conseguem ver melhor no escuro.
Segundo o Science Alert, o tratamento em questão chama-se terapia fotodinâmica (TFD), no qual a luz é usada para destruir células malignas, e, estranhamente, faz com que os pacientes consigam ver melhor no escuro.
Agora, os investigadores conseguiram perceber o que causa esta reação: a rodopsina, uma proteína sensível à luz que se encontra na retina dos olhos, interage com um composto fotossensível chamado clorina e6, um componente crucial deste tratamento.
O trabalho baseia-se no que os cientistas já sabiam sobre o composto orgânico da retina, que é encontrado no olho e geralmente não é sensível à luz infravermelha.
A luz visível aciona a retina para se separar da rodopsina — e isso é convertido no sinal elétrico que o nosso cérebro interpreta para ver. Embora não tenhamos muita luz visível à noite, este mecanismo também pode ser acionado com outra combinação de luz e química. Sob luz infravermelha e com uma injeção de cloro, a retina muda da mesma forma que quando se encontra sob luz visível.
Juntamente com alguns cálculos químicos, a equipa de cientistas usou uma simulação molecular para modelar os movimentos de átomos individuais (em termos da sua respetiva atração ou repulsão), bem como a quebra ou a criação de ligações químicas.
Esta simulação foi executada durante vários meses, antes de ser capaz de modelar com precisão a reação química causada pela radiação infravermelha. Na vida real, escreve o mesmo site, a reação aconteceria em poucos nanossegundos.
“Na simulação, colocámos uma proteína virtual de rodopsina inserida na sua membrana lipídica em contacto com várias moléculas de cloro e6 e água, ou várias dezenas de milhares de átomos”, explica Antonio Monari, da Universidade de Lorena, ao Centro Nacional da Investigação Científica (CNRS).
À medida que o cloro e6 absorve a radiação infravermelha, interage com o oxigénio no tecido ocular, transformando-o em oxigénio singleto altamente reativo — além de destruir as células cancerígenas, o oxigénio singleto também pode reagir com a retina e permitir um aumento da visão noturna, mostra o estudo publicado, em outubro do ano passado, na revista científica Journal of Physical Chemistry Letters.