Uma doença bacteriana que afetou vários soldados durante a I Guerra Mundial está a reaparecer entre sem-abrigo do Canadá e dos Estados Unidos.
Em causa está a “febre das trincheiras”, nome atribuído à doença que é transmitida por piolhos corporais e causada pela bactéria Bartonella quintana. Além da febre, a doença causa outros sintomas agudos, que incluem erupções cutâneas, dores de cabeça e dores nas pernas e nas canelas, escreve o portal Gizmodo.
Num relatório publicado esta semana no Canadian Medical Association Journal, uma equipa de médicos detalha como é que um homem de 48 anos residente em Manitoba, no Canadá, desenvolveu uma infeção cardíaca potencialmente fatal devido a este doença bacteriana descoberta pela primeira vez entre os soldados da I Guerra.
Segundo o relatório, o homem deslocou-se às urgências com sintomas de dor no peito e falta de ar. Dezoito meses antes de dar entrada as urgências, procurou atendimento médico por crises repetidas de dor no peito e de infestações de piolhos corporais.
O seu quadro clínico acabou por complicar-se e o homem de 48 anos precisou da assistência de um ventilador e de ser internado numa unidade de cuidados intensivos.
Teve depois de fazer uma intervenção cirúrgica para substituir duas válvulas cardíacas e, após a operação e tratamento de antibióticos, teve alta. Três meses depois, escreveram os médicos, o paciente mostrou-se bem numa visita de acompanhamento.
Descoberta peça primeira vez nas trincheiras da I Guerra Mundial, onde as condições de higiene e vida eram más e os soldados viviam em espaços muito reduzidos, esta doença terá infetado mais de um milhão de pessoas entre 1915 e 1918.
Apesar de a “febre das trincheiras” raramente ser fatal por si só, em muito dos casos adoecia os soldados de uma forma tão severa que estes ficavam incapazes de lutar durante meses, deixando outros com deficiências incapacitantes.
Atualmente, é tratável com antibióticos, que não existiam durante a I Guerra.
“Febre das trincheiras urbanas”
Desde a década de 1990, vários médicos têm relatados surtos esporádicos de B. quintana entre as populações de sem-abrigo, havendo clínicos que defendem que a doença deve ser rebatizada como a “febre das trincheiras urbanas”.
O relatório sobre o homem de 48 anos do Canadá defende isso mesmo e recomenda que as pessoas que vivem na rua ou em abrigos públicos tenham mais acesso a tratamentos para piolhos corporais, bem como melhores condições de abrigo.
“A forma mais importante de prevenir esta doença é acabar com a falta de habitação e a pobreza. A disponibilidade de instalações de banho e habitação estável também são uma parte crítica para o controlo desta doença”, começou ao dizer ao portal o autor do estudo Philippe RS Lagacé-Wiens, microbiologista clínico no Hospital em Winnipeg.
“Advogar por melhores apoios sociais e de habitação, disponibilidade de remédios para vícios e aconselhamento adicional, bem como aumentar a consciencialização, fazem parte do que precisamos fazer para combater esta doença (…) No final das contas, esta doença é uma consequência da pobreza, cuja extensão não deveria existir em nossa sociedade abastada”, rematou o especialista.