Há uma nova investigação que está a por em causa tudo o que sabíamos sobre a forma do Universo. De acordo com a pesquisa publicada nesta semana, o Universo pode não ser plano, como se pensava, mas antes ser como um grande balão insuflado.
A pesquisa publicada na revista Nature Astronomy tem por base as mais recentes leituras do telescópio Planck, da Agência Espacial Europeia.
Estes dados referem-se ao fundo cósmico de micro-ondas (CMB na sigla em Inglês), isto é, o brilho da radiação que resta do Big Bang e que é um efeito de luz ambiente que ocupa todo o espaço quando se bloqueiam estrelas, galáxias e outras interferências.
O CMB é fundamental para definir a história e o comportamento do Universo, sendo o seu vestígio mais antigo.
Os novos dados do Planck apontam para conclusões que ameaçam a percepção que tínhamos do Universo até agora. Já se fala numa verdadeira crise na cosmologia, tendo-se verificado também que o Universo se está a expandir muito mais rápido do que os cientistas previam.
As razões para esse facto são ainda um mistério e podem ou não estar relacionadas com outras conclusões desafiantes que apontam que o Universo pode não ser plano, como um lençol infinito, mas ser antes esférico e fechado, como um grande balão insuflado.
Esta hipótese resulta das anomalias detectadas nos dados do CMB por cosmologistas das Universidades Johns Hopkins (EUA), Sapienza de Roma (Itália) e de Manchester (Reino Unido).
As investigações indicam que há significativamente mais “lentes gravitacionais” do CMB do que seria de esperar. “A gravidade parece estar a dobrar as micro-ondas do CMB mais do que a física existente pode explicar”, destaca o site científico Live Science.
Estes cientistas apontam que há 41 vezes mais probabilidades de o Universo ser fechado do que plano. A teoria é que terá uma forma “ligeiramente curvada”, com uma “flexão lenta” que não é importante para a nossa rotina diária. Mas viajando até fora da nossa galáxia, isso significa que se nos movermos numa linha recta, terminaremos no local onde começamos.
“A diferença entre um universo fechado e aberto é um pouco como a diferença entre uma folha plana esticada e um balão insuflado”, explica ao Live Science o cosmologista Alessandro Melchiorri, um dos investigadores envolvidos no estudo.
“Isto significa, por exemplo, que se tivermos dois fotões e se viajarem em paralelo, num universo fechado vão [eventualmente] encontrar-se”, aponta Melchiorri. Num universo plano, esses dois fotões viajariam sem nunca se cruzarem, caso não houvesse qualquer interferência nos seus trajectos.
Todavia, a ideia do “Universo fechado” é, para já, apenas uma hipótese e são necessárias “futuras medições” para “clarificar se as discordâncias observadas são devidas a sistemáticas não detectadas ou a uma nova física, ou se são, simplesmente, flutuações estatísticas”, apontam os autores do estudo.
Cosmologistas que não estiveram envolvidos no estudo encaram a teoria com algum cepticismo, como é o caso de Andrei Linde da Universidade de Stanford (EUA), que, em declarações ao Live Science, faz referência a outro estudo que ainda não foi publicado em torno dos mesmos dados do Planck e que concluiu que o mais provável é que o Universo seja plano.
Melchiorri contrapõe que esse estudo teve por base um segmento demasiado pequeno dos dados do Planck, defendendo a análise da sua equipa.
Certo é que se a teoria do “Universo fechado” se confirmar, é preciso “sintonizar” a física do mecanismo primordial associado ao Big Bang e refazer todos os cálculos envolvidos, destaca o cosmologista. Isso será uma grande complicação que acarreta inúmeros problemas e toda uma nova física.
SV, ZAP //