Uma equipa de investigadores da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, mostrou que um acidente vascular cerebral (AVC) pode fazer com que o sistema linfático inunde o cérebro com líquido, afogando as células cerebrais.
Em 2012, cientistas do laboratório Nedergaard da Universidade de Rochester foram os primeiros a documentar a descoberta do sistema linfático, uma série de tubos presos nos vasos sanguíneos do cérebro que bombeiam o líquido cefalorraquidiano através do tecido cerebral, principalmente enquanto dormimos, para ajudar a lavar proteínas tóxicas e outros resíduos.
De acordo com um estudo publicado em janeiro na revista científica Science, as investigações mais recentes do laboratório analisaram se o sistema linfático está envolvido no inchaço do cérebro, geralmente observado após um derrame isquémico, a forma mais comum de derrame que ocorre quando um vaso sanguíneo no cérebro fica bloqueado.
Após um derrame, as células cerebrais ficam sem oxigénio e nutrientes, fazendo com que disparem erraticamente e despolarizem. As ondas elétricas acionam neurónios próximos e provocam uma onda de hiperatividade elétrica no cérebro, seguida por uma onda de inibição, o que liberta uma enorme quantidade de potássio e neurotransmissores no cérebro, o que faz com que as paredes dos vasos sanguíneos capturem e impeçam a entrada de sangue.
Com o vaso sanguíneo agora vazio, o líquido cefalorraquidiano inunda o cérebro e as células cerebrais afogam-se. O dano, então, provoca o inchaço do cérebro.
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“Quando se força cada célula, que é essencialmente uma bateria, a libertar a sua carga, representa a maior perturbação da função cerebral possível – basicamente descarrega-se toda a superfície do cérebro de uma só vez”, disse Humberto Mestre, estudante no laboratório Nedergaard e principal autor do estudo, em comunicado. “O duplo golpe da despolarização em expansão e a isquemia causam cãibras nos vasos sanguíneos, resultando num nível de constrição que é completamente anormal e criando condições para que o LCR flua rapidamente para o cérebro”.
Até agora, este fenómeno ainda só foi observado diretamente em cérebros de ratos. No entanto, os investigadores esperam que a sua descoberta possa ajudar a uma melhor compreensão sobre os derrames em humanos. “Compreender esta dinâmica aponta o caminho para possíveis novas estratégias que podem melhorar os resultados do AVC”, disse Maiken Nedergaard, co-diretor do Centro Médico da Universidade de Rochester.
O estudo também destacou a importância da aquaporina 4, um canal de água encontrado nas células próximas à barreira hematoencefálica que ajuda a regular o fluxo do líquido cefalorraquidiano. Os ratos geneticamente modificados para não possuírem aquaporina-4 experimentaram um fluxo muito mais lento de fluido no cérebro.
Embora haja muito mais para aprender sobre este processo, isto pode ser usado para desenvolver intervenções que reduzam a gravidade dos AVC’s.