Na escola, aprendemos que só podemos apanhar certas doenças, como a gripe, através de outras pessoas. Porém, um novo estudo defende que muitas “doenças não transmissíveis”, como a maioria dos cancros e doenças cardíacas, às vezes, podem ser transmissíveis.
Cada um de nós é um zoológico ambulante, de acordo com o Gizmodo, e estamos cheios de bactérias, vírus e outras criaturas invisíveis que dependem do nosso corpo para se sustentar. Estas criaturas coexistem connosco sem causar nenhum dano e muitas até são benéficas.
Nos últimos anos, começamos a desvendar as formas complexas como o microbioma pode afetar o nosso corpo, especialmente desequilibrado. Estudos já vincularam uma variedade de condições crónicas não transmissíveis, como obesidade e doenças cardiovasculares, a um microbioma fora de sintonia.
Ainda estamos nos estágios iniciais de compreensão do microbioma. Mas, num novo artigo publicado na semana passada na revista científica Science, os autores argumentam que há evidências suficientes para começar a testar a teoria de que muitas doenças não transmissíveis podem ser transmissíveis através do microbioma.
Há já evidências precoces da transmissão do microbioma entre humanos, por exemplo, entre a mãe e um filho no útero ou nas bactérias fecais de outras pessoas que acabam nos nossos alimentos e água.
De acordo com os investigadores, doenças geralmente consideradas não transmissíveis podem passar entre os pacientes através de micróbios intestinais. Por outro lado, é difícil de provar que as bactérias intestinais transferidas entre os pacientes podem desencadear doenças não transmissíveis.
Segundo Brett Finlay, co-autor do artigo e microbiologista da Universidade da Colúmbia Britânica, as bactérias no intestino ajudam a digerir os alimentos, extrair nutrientes e fortalecer o sistema imunológico. O intestino e o que lá vive são moldados pelo local onde vivemos, os alimentos que comemos e a forma como interagimos com o meio ambiente. As pessoas com quem interagimos também desempenham um papel. Aliás, o estudo indica que os cônjuges têm microorganismos intestinais semelhantes a irmãos que morem longe.
Mesmo que exista um microbioma “arriscado” para a doença de Alzheimer, ninguém com esse microbioma não vai acordar com demência na manhã seguinte. Muitas condições crónicas demoram anos, ou até décadas, a surgir, mesmo em pessoas com alto risco – e nem todos ficam doentes. Finlay também observou que não estamos a falar de um único germe mau, mas sim de um microbioma que se pode ter desequilibrado de várias formas.
Por outro lado, Finlay afirmou que se a teoria apresentada no artigo estiver correta, abriria uma nova porta para a investigação de doenças que os cientistas possam estudar.
Em declarações à Discover Magazine, as melhores estratégias preventivas para doenças não transmissíveis são dieta e exercício. “E o que mais [dieta e exercício] fazem? Mudam drasticamente os seus micróbios”, explicou o cientista.
Ainda assim, Finlay acredita que a teoria precisa de mais trabalho e seria antiético trocar o microbioma causador de doenças entre humanos.