Um grupo de legisladores do Reino Unido revelou que até 50 mil milhões de libras em dinheiro estavam “desaparecidos” e pediu ao Banco da Inglaterra que investigue a situação.
O Banco da Inglaterra foi criticado por legisladores no Reino Unido após ter sido sabido que 50 mil milhões de libras em notas estavam “desaparecidas”. Um poderoso grupo do Comité de Contas Públicas (PAC) do Governo britânico disse que o banco central do Reino Unido precisa de assumir a responsabilidade pelo dinheiro não contabilizado e “assumir um papel mais proativo em rastreá-lo.”
Segundo a CNN, o uso de dinheiro tem diminuido há anos na Grã-Bretanha, mas a demanda por notas está a disparar – e ninguém sabe ao certo para onde está a ir o dinheiro.
O Banco da Inglaterra nega responsabilidade pelo dinheiro. “É responsabilidade do Banco da Inglaterra atender à demanda pública por notas. O banco sempre atendeu a essa demanda e continuará a fazê-lo. Membros do público não de precisa explicar ao banco por que deseja ter notas. Isso significa que as notas não estão desaparecidas”, anunciou o banco, em comunicado.
O economista independente e investigador de economia do Instituto de Assuntos Económicos (IEA) Julian Jessop argumentou que dizer que 50 mil milhões de libras “desapareceram” não faz justiça à situação. Para Jessop, a reação imediata ao relatório do PAC foi alarmista.
“Só está desaparecido no sentido de que não sabemos como este dinheiro está a ser usado”, disse Jessop, em declarações à Newsweek. “Em certo sentido, nunca saberemos. Tenho dinheiro na carteira, para que está a ser usado? Posso comprar alguma coisa ou posso apenas guardá-lo. Acho que desaparecido é a palavra errada, não contabilizado também está errado. Está em circulação, não desapareceu nem foi roubado, mas não sabemos exatamente como está a ser usado”.
“O Banco da Inglaterra perdeu o controlo de £50 mil milhões em notas – o equivalente a uma pilha de notas de 5 libras com 800 milhas de altura. O que aconteceu com os seus controles internos, registros e auditorias?”, escreveu Prem Sikka, trabalhista na Câmara dos Lordes.
Sikka “genuinamente parecia pensar que o dinheiro tinha sido perdido nos cofres do próprio Banco da Inglaterra”, disse Jessop. “Teria sido o maior roubo da história.”
O National Audit Office descobriu que, em julho, notas esterlinas no valor de 76,5 mil milhões de libras estavam em circulação no Reino Unido.
Porém, o Banco da Inglaterra estimou que apenas 20% a 24% estava a ser usado ou retido para transações em dinheiro do dia-a-dia. O banco estima que mais 5% do dinheiro são mantidos como poupança pelas famílias do Reino Unido. Isso deixa cerca de 70% – ou pouco mais de 50 mil milhões de libras, “não contabilizados”.
O PAC, que examina a economia no Reino Unido, especulou que o dinheiro pode ter sido mantido como poupança familiar não declarada, possivelmente levado para o exterior ou usado na economia subterrânea. “O Banco da Inglaterra não sabe”, disse.
Para Jessop, a economia subterrânea “poderia explicar a falta de dinheiro” – mas acha que é uma visão muito simplista. “Não é implausível, a investigação da IEA sugere que cerca de 10% da economia do Reino Unido pode ser a economia paralela, que pode mais do que representar os 50 mil milhões”, disse. “Não acho que seja isso, acho que é mais provável que as pessoas estejam mais dispostas a segurar o dinheiro agora”.
O problema das notas não contabilizadas não é novidade, mas a pandemia pode ter ajudado a aumentar a quantidade que está “desaparecido”. O dinheiro “perdido” pode aparecer em transações e depósitos bancários quando a pandemia diminuir e as taxas de juros começarem a aumentar outra vez.
Já a presidente do PAC, Meg Hillier, disse que o banco “precisa de controlar melhor a moeda nacional que controla” e não está convencida com argumento de que o dinheiro está nas carteiras de indivíduos em todo o país. “Há mais de nós a colocar dinheiro debaixo do colchão por causa da covid? Teria de ser muitos de nós a fazer isso”, disse Hillier.
Jessop considera que o foco do PAC na economia subterrânea desviou a atenção da verdadeira questão no centro do seu relatório: o impacto de uma sociedade sem dinheiro em comunidades vulneráveis, idosas ou remotas. “Devemos concentrar-nos nas questões mais amplas de acesso ao dinheiro, onde alguns dos mais vulneráveis na nossa sociedade enfrentam problemas reais”, disse.