O semanário Expresso está a avançar, esta manhã, que a TAP vai ser nacionalizada como resultado da falha de acordo entre o Estado e os acionistas privados em relação ao empréstimo de 1,2 mil milhões de euros à companhia aérea de bandeira portuguesa.
De acordo com o semanário Expresso, que avança a notícia na manhã desta terça-feira, o acordo entre o Estado e os acionistas privados em relação ao empréstimo de 1,2 mil milhões de euros à TAP falhou e a companhia aérea vai ser nacionalizada.
Segundo o mesmo jornal, a administração da Atlantic Gateway, empresa detida por David Neeleman e Humberto Pedrosa e que controla 45% da TAP, inviabilizou, reunião de segunda-feira à noite, a aprovação do empréstimo do Estado à companhia aérea, o que levou à rutura com o Governo.
Bruxelas, recorde-se, deu autorização para um empréstimo até 1,2 milhões de euros do Estado à TAP, dinheiro esse que teria de ser reembolsado em seis meses. A empresa teria de apresentar um plano de reestruturação que obrigaria a redimensionar a companhia aérea.
O diploma de nacionalização segue agora para a Presidência do Conselho de Ministros.
Ouvido numa audição na Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, prescindiu da intervenção inicial, passando a palavra ao deputado do PSD Cristóvão Norte.
“Hoje, os portugueses sabem que o processo de recompra [da TAP] foi uma gigantesca fraude”, disse Cristóvão Norte. “Se tivermos, por força do plano de restruturação, menos rotas, voos e trabalhadores, como e possível garantir subsistência do hub, assegurar que TAP tem uma adequada cobertura geográfica? Como é que o ministro garante que estes 1.200 milhões que o Governo quer injetar na TAP são suficientes para assegurar a sustentabilidade da TAP?”.
O deputado disse ainda que Pedro Nuno Santos “tem de dizer qual é o plano para a TAP e qual é a influência que o Estado exerce“.
O ministro das Infraestruturas disse que “não há nenhuma cláusula secreta“, acrescentando que “isso é falso”. Pedro Nuno Santos afirmou também que “se há partidos que não se podem queixar do Estado ter acautelado a sua posição no momento da reconversão” são o PSD e o CDS, que privatizaram a TAP há uns anos. “Como é que pode agora o PSD ficar zangado porque Estado não acautelou a sua posição?”
“Quando estamos a falar da TAP, não podemos ficar limitados aos resultados enquanto empresa”, explicou, referindo que a companhia aérea tem “importância determinante” para o país. “A TAP tem 10 mil trabalhadores, mas ajuda a manter e criar muito mais do que isso. Compra 1.300 milhões a empresas nacionais, mas não é só esse o dinheiro que entra nas empresas nacionais”.
“Temos de conseguir sair um bocado mais para cima e olhar para a realidade”, disse, acrescentando que “seria um desastre do ponto de vista económico e social o país perder a TAP”.
“Só os fanáticos do Iniciativa Liberal acham que nos podemos dar ao luxo de deixar cair a TAP”, afirmou.
Referindo que “1,2 mil milhões de euros é muito dinheiro”, o ministro adiantou que o Estado terá de fazer uma “gestão criteriosa” desse montante, de forma a dar à TAP uma “dimensão que a ponha com maior sustentabilidade no futuro”. Pedro Nuno Santos explicou que o plano de reestruturação “não foi imposto”, mas que “o Governo só tinha aquela opção”.
Prejuízos de 395 milhões no primeiro trimestre
A TAP registou prejuízos de 395 milhões de euros no primeiro trimestre de 2020. Perante os efeitos da pandemia a nível financeiro, a companhia aérea de bandeira portuguesa está a reajustar a dimensão da sua frota de aeronaves.
De acordo com um comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), citado pelo ECO, a TAP apresentou um “resultado líquido negativo do trimestre de 395 milhões de euros impactado por eventos relacionados com a pandemia covid-19, nomeadamente pelo reconhecimento de overhedge de jet fuel de 150,3 milhões, tendo o resultado líquido sido igualmente impactado por diferenças de câmbio líquidas negativas de 100,5 milhões”.
Excluindo esses efeitos, explica o ECO, o resultado líquido do primeiro trimestre de 2020 “teria sido negativo em 169,9 milhões de euros“. “No período homólogo de 2019 o resultado líquido foi de -106,6 milhões”, ou seja, quase quadruplicou as perdas. O EBITDA foi negativo em -22,6 milhões.
A empresa disse que “a quebra de atividade verificada em março de 2020 em resultado da pandemia covid-19 impactou negativamente a performance da TAP no primeiros trimestre, compensando a boa performance observada nos primeiros dois meses do ano”.
“Março foi já significativamente afetado pelas medidas de contenção adotadas pelas autoridades nacionais e internacionais que se refletiram numa acentuada quebra na procura e levaram a TAP a diminuir a sua capacidade operacional, traduzindo-se numa deterioração progressiva da atividade ao longo do mês”.
Os resultados operacionais da TAP foram negativos em 155,3 milhões de euros, o que compara com os -101,4 milhões registados um ano antes, numa altura em que se assistiu a uma diminuição dos rendimentos operacionais totais em 5,0% e das receitas de passagens em 3,7%, “sendo a diminuição verificada no mês de março de 106,3 milhões (-47,7%) nos rendimentos operacionais totais e de 90,3 milhões (-46,9%) nas receitas de passagens”.
No primeiro trimestre, houve um “decréscimo do número de passageiros transportados no trimestre em 12,6%, sendo que no mês de março, o decréscimo do número de passageiros transportados atingiu os 54,7% na comparação com o mesmo mês de 2019.
Segundo o comunicado, cita o ECO, “a TAP registou fluxo de caixa operacional positivo no primeiro trimestre, com uma melhoria face ao período homólogo do ano anterior”. A empresa encerrou os três primeiros meses com uma posição de caixa e equivalentes de 280,4 milhões.
Houve ainda uma quebra do endividamento. “A dívida remunerada representada por empréstimos bancários e obrigações durante o trimestre diminuiu em aproximadamente 139 milhões de euros, tendo sido realizada em fevereiro de 2020 uma amortização no montante de 158,6 milhões referente a um financiamento com um sindicato de bancos portugueses”.
De acordo com o ECO, face aos prejuízos registados no primeiro trimestre do ano, a TAP está a reajustar a dimensão da sua frota de aeronaves. No início do ano, chegaram novos aviões, mas deverão deixar o serviço seis aeronaves, estando a ser equacionadas “saídas adicionais”.
“Durante o primeiro trimestre de 2020 entraram em operação três aviões de nova geração Airbus (2 A330 neo e 1 A321 neo), tendo saído de operação 1 A319, terminando a TAP o trimestre com uma frota de 107 aviões (incluindo aviões regionais operados pela Portugália e White)”, segundo a empresa.
“O Conselho de Administração iniciou um processo de análise da capacidade instalada, o qual poderá vir a resultar numa restruturação da frota. Prevê-se para o período remanescente de 2020 uma redução líquida da frota, incluindo a saída já confirmada de 6 aviões (1 A321, 1 A320, 3 A319 e 1 E190) que terminam contrato em 2020”.
Segundo a TAP, “estão a ser estudadas saídas adicionais de aeronaves por forma a alinhar com o plano de frota atualmente em revisão”.